Nesta terça-feira (13), foi divulgada, juntamente com fotos exclusivas, uma entrevista da cantora Lady Gaga para a revista Variety, da qual é o rosto escolhido para estampar a capa da nova edição.

Na longa entrevista, a cantora aborda assuntos como: sua experiência após 10 anos de carreira, a fama, o filme "Nasce Uma estrela", sua personagem (protagonista do filme), além de aproveitar para responder algumas especulações, como uma possível apresentação de "Shallow" no Oscar, caso a música seja indicada (adiantamos que a resposta é sim, ou melhor, "100%").

Leia a entrevista completa:

CREDIT: ART STREIBER FOR VARIETY

Lady Gaga nunca mais vai ser a mesma depois de "Nasce Uma Estrela"

Lady Gaga não consegue se desprender de sua personagem de "Nasce Uma Estrela". E ela não quer se desprender. "Eu sinto Ally dentro de mim", Gaga fala sobre o ícone da música que ela interpreta no filme. "Eu me pergunto por quanto tempo ela vai ficar. Ou se ela vai ficar aqui para sempre".

O relacionamento simbiótico é evidente na sua sessão de fotos para a Variety feito na sua casa em Malibu uma semana antes de ter que evacuar devido ao incêndio Woolsey no norte da Califórnia. Gaga não tinha certeza do que ia usar a princípio. Mas então se sente inspirada ao se deparar com uma camisa de colarinho masculina. Ela revela que é a mesma camisa usada em várias cenas importantes por seu companheiro Bradley Cooper que interpreta o cantor galã Jackson Maine em "Nasce Uma Estrela". Mais tarde no filme, Ally herda a peça de roupa. Como seu personagem, Gaga guarda a lembrança em seu armário, mas ela nunca sonhou em usá-lo novamente - até agora.

Durante a próxima hora, Gaga posa com as mangas da blusa dobradas, as bordas para fora caindo bem acima dos joelhos, revelando uma tatuagem de um unicórnio na coxa esquerda. Em um momento, ela se equilibra em um banquinho tremulo usando botas pretas de camurça de cano alto com salto agulha, realizando uma série de manobras acrobáticas de cair o queixo. Ela até recria um momento do filme em que sua personagem traça a forma de seu nariz grande demais. No final da sessão de fotos, Gaga faz uma confissão surpreendente. Quando ela olha para as fotos na tela do computador, ela não consegue se lembrar da última vez que viu uma foto de si mesma e não viu tristeza em seus olhos. Essas fotos são diferentes. "E isso me faz feliz", diz ela, chorando.

Gaga, 32, ainda está processando o sucesso esmagador de seu primeiro filme. Sentada no convés de sua extensa propriedade em Malibu, com um celeiro para seus cavalos e cães de guarda, ela fala abertamente sobre esse período em sua vida. "Este tem sido um momento muito transformador para mim", diz Gaga sobre "Nasce Uma Estrela", uma jornada que muda vidas pontuada por explosões de excitação e dúvida. "Como artista, sempre há um sentimento de: 'Sou boa o suficiente? Estou fazendo algo honesto? Estou fazendo algo verdadeiro?', há uma espécie de tristeza estagnada em mim, me perguntando se eu sou o suficiente. Hoje eu não vi isso. Eu vi algo diferente. Eu vi uma clareza. Eu vi uma verdade".

Seu retrato vulnerável de uma musicista iniciante fez com que "Nasce Uma Estrela" fosse o filme a ser assistido no cinema, lançando Gaga a um novo patamar. Lendas da música como Cher e Bette Midler costumavam carregar sem esforço seus próprios veículos cinematográficos nos anos 80 e 90, mas poucos cantores profissionais conseguiram realizar tal feito recentemente. (Basta perguntar a Mariah Carey sobre a bomba que foi "Glitter"). Desde o início de outubro, "Nasce Uma Estrela" arrecadou mais de US $ 300 milhões nas bilheterias globais. Melhor ainda, o lançamento da Warner Bros. é o filme raro que transcende a telona. Houve infinitas discussões no Twitter sobre a evolução musical de Ally, cartas de amor no Instagram, memes sobre a adoração inabalável de Gaga em Cooper e recitações públicas da trilha sonora, especialmente de "Shallow", o hino mais cativante desde que Céline Dion discutia sobre Kate e o amor perdido de Leo a bordo do Titanic.

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Agora, Gaga e o filme estão prestes a invadir as premiações como o favorito ao Oscar deste ano. "O negócio está mudando muito", diz Cooper, que fez sua estreia como diretor em "Nasce Uma Estrela" e passou quatro anos produzindo o filme com um modesto orçamento de US $ 38 milhões. "Eu sei que parece bom para a indústria que um filme como este, que é sobre relacionamentos e como precisamos uns dos outros, esteja indo bem financeiramente". Isso poderia finalmente significar uma boa notícia para o Oscar, que tem lutado contra acusações de irrelevância já que a audiência caiu 20% em março, para um novo recorde de 26 milhões. Se "Nasce Uma Estrela" conquistar o prêmio principal, será o mais bem-sucedido vencedor de Melhor Filme, em termos de vendas de ingressos domésticos, desde "O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei" há 15 anos. (Naquela época, o show atraiu 44 milhões de espectadores).

E se "Shallow" for indicada ao Oscar para Melhor Música, Gaga diz que vai cantar na cerimônia. "Cem por cento", ela diz. De fato, Cooper revela que ele tem planos de cantar o dueto ao vivo com Gaga. "Na verdade, nós conversamos sobre isso, porque eu sou um maníaco", diz Cooper. "Eu comecei a mandar mensagens para ela sobre como deveríamos fazer isso. Então vamos ver. Pode haver uma maneira legal e um pouco diferente de performá-la".

Gaga talvez seja perfeitamente adequada aos requisitos da campanha do Oscar, que favorece personalidades maiores ao invés daquelas "menos é mais". Ela tem sido uma espectadora dedicada durante a maior parte de sua vida. "Eu costumava me envolver em um cobertor de malha afegão ou na manta da minha vó e ficar em um pódio enquanto assistia ao Oscar", diz Gaga, que cresceu em Manhattan como Stefani Germanotta. "Eu tinha grandes sonhos quando criança". Claro que ela não tinha a menor ideia de que seu primeiro filme, um remake do filme de 1937 estrelado por Janet Gaynor, com atualizações de Judy Garland (em 1954) e Barbra Streisand (em 1976), iria se tornar um fenômeno tão grande. "Bem, me dê mais alguns filmes antes de dizer que sou um sucesso", diz ela com sua voz rouca. Mesmo em sua sessão de fotos, Gaga instrui o fotógrafo: "Não me fotografe como uma estrela de cinema".

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Sim, houve outras ofertas de filmes. Mas ela não tem lido muitos roteiros. As últimas semanas de sua vida a lembraram do tempo após o lançamento de "The Fame Monster", de 2009, o álbum que consolidou seu status de artista que poderia lotar estádios em todo o mundo. "Isso parece muito para mim como aquilo, mas de uma maneira diferente, porque eu tenho toda a sabedoria, dor e a traição dos últimos 10 anos", diz Gaga. "Olhe, de fora para dentro, acho que as pessoas pensam que é tudo champanhe e rosas para nós. Com 'Nós' eu quero dizer os diversos artistas/celebridades". Ela faz uma pausa por uma fração de segundo. "Eu não gosto da palavra 'celebridade', porque para mim isso nega minha arte. Você passa por muita dor. Tudo muda. Toda a sua vida muda".

"Nasce Uma Estrela" é uma meditação sobre essa fama, Gaga se identifica com uma cena no começo do filme, quando Jackson deixa os aplausos estrondosos de um estádio para entrar na solidão tranquila de seu carro com o motorista. Ela aposta que assistiu ao filme, que estreou no Festival de Cinema de Veneza em agosto, de cinco a dez vezes. Na primeira exibição, Cooper trouxe um sistema de som para uma sala privada, para amplificar o som, e ele cobriu as janelas com sacos de lixo para que "a luz da tela fosse mais nítida", ela se lembra. "Eu chorei o tempo todo, porque eu senti falta de Jackson."

Recentemente, ela comprou um ingresso para assistir ao filme em um multiplex local. "Sim, eu entrei de penetra", diz ela. "Eu assisti a maior parte dele". Ela saiu cedo, mas não por medo de ser vista. "Eu tive que me retirar antes do final", explica ela. "O filme me move tão profundamente. Eu me sinto tão impregnada na personagem que a segunda metade do filme (sem revelar o que acontece) é tão emocional e trágica. Eu tenho que me tirar dele".

Durante a maior parte de sua carreira, Gaga tem sido uma presença maior que a vida, escondida atrás de máscaras e razões ligadas a seus lançamentos de álbuns. Como Madonna, seu antecessor mais natural, ela abraça e abandona personalidades a cada música nova, de "Bad Romance" (e aquele vestido de carne) a "Million Reasons" (com um terninho cor-de-rosa e um chapéu de vaqueira). Mas quem é Gaga? "Nasce Uma Estrela" apresenta um olhar mais íntimo para a artista despojada de sua armadura.

Como a versão de Garland do filme, este último "Nasce Uma Estrela" faz sucesso devido a junção da ingenuidade e do ícone. Gaga não tem vergonha ao lembrar que ela não é Ally, por mais que elas se pareçam uma com a outra. Ela trabalhou duro para criar a personagem, co-escreveu as músicas e forneceu anedotas sobre o negócio da música que informou o roteiro. Antes da sessão de 42 dias, ela treinou com a falecida treinadora Elizabeth Kemp em uma oficina em Santa Bárbara. Ela se submeteu a um exercício em que ela teve que deitar no chão e imaginar quando "a vida te explodiu tanto que você não consegue lembrar quem você era antes de acontecer", lembra ela. "Eu desabei e comecei a chorar. Antes que eu percebesse, eu estava falando sobre como era minha cama e minha cama estava me dizendo para eu me levantar".

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No script, Cooper adicionou referências que relembravam as versões anteriores da história. O bar drag onde Jackson conhece Ally se chama Bleu Bleu, uma lembrança do clube da versão interpretada por Garland. Havia outra também, mais evidente, que acabou sendo cortada. "Nós fizemos uma cena onde Jackson deu sapatos de rubi para Ally", Gaga diz. "Ele estava deitado debaixo da cama, e ela estava em cima, e tudo que você consegue ouvir ele fazendo é batendo um sapato no outro. Ela inclina-se, ele está rindo, e eles estão tão apaixonados".

Toby Emmerich, o presidente da Warner Bros. Pictures, revela que o roteiro original tinha um final diferente. "O primeiro final que eu li, [Jackson] nada no oceano, onde ele comete suicídio", Emmerich fala. "No roteiro que nós tínhamos quando ele começou a gravar, ele estava de moto. Seria mais parecido com o final de Kris Kristofferson [na versão de 1976] com a Ferrari, mas seria Jackson com a Harley. Mas Bradley mudou de ideia, veio me ver e mostrou a ideia que ele acabou usando. Eu acho que ele estava certo. Quando eu assisto o filme agora, não consigo imaginar outro final".

Gaga levou várias recordações do set. Ela é a dona do livro de composições de Ally, uma garrafa de sabão que estava presente em uma cena de amor na banheira e uma camisa de Jackson. "Eu queria ter uma parte dele comigo", diz Gaga, que está noiva do talentoso agente Christian Carino. "Isso é muito precioso para mim. São heranças, ou serão heranças um dia. São coisas que eu quero mostrar para a minha menininha ou menininho e dizer: 'Aqui estão. Vocês podem tocá-los'. Eu quero que eles tenham uma experiência próxima, tangível e poética do filme da mesma forma que eu tive".

Na noite antes de "Nasce Uma Estrela" estrear nos cinemas, Gaga estava cheia de expectativas. Aparecendo junto de outros atores do elenco, ela respondeu perguntas em uma exibição do filme no MoMA. Ela falou carinhosamente sobre trabalhar com Cooper, algo que ela faz toda vez quando perguntam sobre ele. Quando o evento acabou, uma multidão de fãs barulhentos se reuniu na entrada, criando um cenário incontrolável. "É como se fosse a Princesa Diana", disse um votante do Oscar. Apesar de os guardas terem instruído que Gaga não desse autógrafos, ela deu mesmo assim. Quando o carro dela estacionou na 53rd Street, e virou para a direita entrando na 6th Avenue, fãs começaram a perseguir o carro dela a pé. Ela abriu a janela quando o sinal estava fechado para autografar mais coisas do banco de trás.

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A ideia de fazer novamente "Nasce Uma Estrela" tem sido conversada na Warner Bros. desde os anos 90. "Toda vez que uma grande estrela do pop aparecia, nós falávamos sobre isso", disse o produtor Bill Gerber. "Hey, deveríamos fazer 'Nasce Uma Estrela' com Lauryn Hill ou Aaliyah? Whitney Houston foi muito falada naquela época".

Em 2011, parecia que haveria algum movimento. Clint Eastwood estava brevemente fixado para dirigir, com conversas de que Beyoncé iria estrelá-lo com Cooper. O acordo não aconteceu, mas em 2014, Cooper começou a olhar o projeto como sua estreia como diretor. "Eu amo atuar", ele disse. "Eu acho que é a melhor forma de dirigir o filme com segurança". Ainda assim, Cooper inicialmente considerou outra pessoa para interpretar Jackson. "Eu vi uma outra pessoa que eu queria que fizesse isso, que é um músico de verdade", Cooper disse. "Mas [o estúdio] não iria fazer o filme com essa pessoa". Uma fonte com conhecimento a respeito das conversas disse que Cooper tinha se encontrado com Jack White, o antigo vocalista de White Stripes. Mas isso tudo foi antes de Gaga entrar na história.

A química de Gaga e Cooper é tão natural, é difícil imaginar outra pessoa interpretando esses papéis. A proximidade deles pode ser percebida durante uma entrevista conjunta com a Variety de outubro em Nova Iorque. Os dois juram que não haviam lido as melhores reviews do filme. "Meu empresário às vezes me mandava mensagens com pequenos trechos", Gaga diz. "Eu falava: Pare!". Cooper só quebrou a regra uma vez. "Eu li uma review, e foi horrível", ele disse. "Foi de um lugar que eu cresci lendo. E eu vi a review em um feed de notícias".

Eles querem trabalhar juntos novamente. "Talvez ela irá dirigir", Cooper diz. "Não, não, não", Gaga responde. "Não vamos nos precipitar ou confundir nossos videntes. Eu fiz isso porque eu acredito nele e em todas as pessoas que reunimos. É melhor eu dirigir videoclipes".

Uma pergunta que persiste sobre o filme envolve a trajetória da carreira de Ally. No meio do filme, nas mãos do empresário ordinário britânico, ela tinge seu cabelo para laranja e começa a produzir um pop mais comercial. No "Saturday Night Live", Ally canta em um tom sexualmente provocativo, "Why Did You Do That?", o que leva Jackson a acreditar que ela perdeu seu caminho. Diane Warren, que co-escreveu a letra, disse que não foi proposital fazer uma música ruim. Mas Gaga tem evitado dar sua própria interpretação até agora. "Quando nós vemos Ally no 'Saturday Night Live' e ela está cantando uma música sobre o porquê de ele ficar tão bem naqueles jeans, é quase uma antítese de onde nós começamos", Gaga diz. "Aquilo é relativamente raso". Cooper não vê desse jeito. "Eu não necessariamente vejo a música dela como superficial", ele diz. "Eu acho que ela está apresentando com todo o seu coração".

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Não tem como negar a atração universal por "Shallow". Algumas semanas depois, na sua casa, Gaga explica sua teoria sobre o motivo de ter se tornado um hit tão grande. "Estamos vivendo em uma época onde há tanta conversa sobre as vozes das mulheres sendo ouvidas", Gaga diz. "Os homens ouvindo essas vozes. E também, homens que não escutam essas vozes. Mulheres sendo silenciadas publicamente, como Dr. [Christine Blasey] Ford com o jurista [Brett] Kavanaugh. O juiz Kavanaugh sendo nomeado é basicamente dizer para cada mulher no país que foi assediada: 'Nós não nos importamos. Ou não acreditamos em vocês'".

Ela disse que o que é especial sobre a música é que é um diálogo aberto entre um homem e uma mulher: "Para mim, aquela conversa é o que torna a música bem-sucedida e linda e o motivo de as pessoas chorarem quando a escutam. É porque aquele homem e aquela mulher se conectaram, e eles estão se ouvindo".

Quando Gaga reflete sobre o impacto cultural de "Nasce Uma Estrela", ela olha para o filme através dos olhos de seus fãs. Significa muito para ela que eles defenderam esse projeto. "Eu só quero vencer agora", ela diz, falando metaforicamente, "porque eu quero que aquele jovem que se sente como eu, desajustado ou excluído como se não se encaixasse, quero que eles vençam. O prêmio para mim é que o filme seja uma vitória para eles".

Escrito por: Ramin Setoodeh

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Fonte

Tradução por Vinicius Colombo e Vanessa Braz de Queiroz

Imagem: Art Streiber (para Variety) / Reprodução: Variety

Revisão por Kathy Vanessa