Nesta terça-feira, dia 29, uma nova entrevista com Lady Gaga foi divulgada pela revista bimestral American Songwriter, na qual a cantora fala sobre diversos assuntos relacionados ao seu novo álbum, "Chromatica".

Entre os assuntos presentes na entrevista estão: os instrumentais presentes no novo álbum, como ela começa seus álbuns e como foi com o "Chromatica", como funciona o trabalho em estúdio, sua parceria com Elton John em "Sine From Above" e seu gancho vocal em "Fun Tonight".

Leia a entrevista completa traduzida:

No dia 29 de maio, a artista inigualável e maior que a vida, Lady Gaga, lançou seu sexto álbum de estúdio, o épico e recheado de músicas dançantes com 16 faixas, Chromatica (que vendeu 274,000 cópias na sua primeira semana). O álbum, que alcançou o número 1 da Billboard 200 dos EUA, bem como o topo em mais de uma dúzia de outros charts, expõe a habilidade de Gaga em intercalar ideias profundas com sensibilidades pop. Gaga tem o talento assombroso e quase sobrenatural de produzir uma música que pode lotar uma pista de dança cheia de suor às 3 da manhã com um som pulsante (veja o novo single, “Rain on Me”) enquanto ao mesmo tempo, se você analisar os versos, ela terá seu coração jorrando emoção.

Quando Lady Gaga atende o telefone, ela imediatamente pergunta como você está. Ela é uma das maiores estrelas do mundo, mas é igualmente altruísta em seu comportamento e conversação. Quando a conversa finaliza, ela pergunta sobre seu final de semana, o que você e seu companheiro estão fazendo. Ela te parabeniza por um evento familiar importante e recente. Verdadeiramente, é notável a sua consideração. Ela é a Lady Gaga, afinal de contas. A artista com bilhões de streams, com punhados de prêmios e aclamação suficiente para abastecer um ônibus espacial.

Mas prêmios e bajulação são derivados do que ela é. Lady Gaga se importa com arte, expressão, chegar na fonte ou na raiz de um sentimento e expressar totalmente aquela emoção, profundamente e de uma forma à qual a maioria das pessoas na terra conseguem se conectar. Ela é ambiciosa, mas extremamente sensível. E juntos, esses dois adjetivos fazem uma combinação justa e até mesmo frágil. Nós conversamos com a artista para perguntar como o Chromatica se frutificou, como foi colaborar com o produtor bem sucedido BloodPop, como foi trabalhar com Sir Elton John e o motivo pelo qual ela decidiu abrir o LP fervente com uma orquestra.

Como você decidiu abrir o Chromatica com uma composição de orquestra?

Foi algo que eu e BloodPop conversamos muito sobre. Eu tenho que dizer, eu amo e respeito tanto o BloodPop. Ele é um amigo, compositor e produtor tão querido para mim. É um ser humano e tanto. Ele disse “O que você acha de potencialmente fazer alguns intervalos para o álbum?” Eu ainda não tinha pensado nisso, mas eu amo compor um estilo mais clássico de música. Violinos, coisas assim. Arranjos de cordas, arranjos de trompa. Fiz muito disso na trilha sonora de Nasce Uma Estrela. Então fiquei muito animada.

[A musicista] Morgan [Kibby] começou a trabalhar em algumas coisas [no estúdio] e nós sentamos juntas. Por esse álbum ser muito pessoal para mim, eu comecei com um instrumento de cada vez e escrevi os componentes com ela. Ouvimos o som crescer mais e mais. Exploramos e se tornou uma narrativa. Verdadeiramente, aqueles intervalos não podiam ser escritos ou compostos, eu diria, até que o resto do álbum tivesse se cristalizado e se tornado o que eu creio que seja uma homenagem amável à música dance clássica.

Quando você vai começar um novo álbum, é um começo organizado que você sabe quando tem que começar? Ou você vai tendo ideias em doses esporádicas que te dizem quando você deve começar?

Sabe, é sempre diferente. Às vezes começa com uma mudança meio emocional dentro de mim. Ou uma transição na minha vida que eu acho significante e que eu irei me descobrir na frente do piano em algum momento. Ou eu me descubro na frente de um diário, de uma máquina de escrever ou cantando em uma fita de gravação. Mas com esse álbum, em específico, eu tomei a decisão de explorar meu relacionamento com BloodPop e explorar o que ele via em mim como artista. Porque eu estava em um lugar muito escuro e ele conseguia ver cores. Isso é Chromatica. Quando eu não conseguia ver cor, BloodPop conseguia. Até o final da produção, eu conseguia ver todas as cores, por isso que no vídeo de “Stupid Love” há uma história de cores. Porque da escuridão veio tanta cor, tanta luz. Para mim, cor é aconchego. Cor é o abraço de afeto. Cor é a forma que deveríamos ver as coisas.

Então nós começamos a trabalhar. Nós começamos a descobrir juntos ao trabalhar. Mas foi desafiador inicialmente, porque eu estava lutando contra mim mesma de diversas formas. Mas eu queria praticar minhas habilidades e eu queria praticar minha arte. Eu achei unicamente interessante que se eu coloco minha mente e meu coração em algo – aquele momento no piano quando eu escrevia uma letra ou uma melodia ou progressão de cordas com Blood. Ele ficava sentado no chão, eu ficava no piano ou ele estava na sala de comando do estúdio e eu estava no piano e ele ficava sentado no seu computador pronto para começar e eu lembro de pensar, “Bem, ele me ama e eu posso dizer seja lá o que eu estou sentindo. Posso tocar seja lá o que eu estou sentindo.”

Essa foi a jornada de alguns anos. Trabalhamos juntos de forma intermitente e então ele me reuniu com o squad. Ou seja, o time que iria construir o resto de Chromatica.

Como é o ecossistema do seu estúdio? Há muitos produtores por ali? Você gosta de trabalhar com um time menor? Como é a estrutura?

Bem, depende do que estou trabalhando. Para Nasce Uma Estrela, em qualquer dia eu poderia estar sozinha no estúdio com Ben Rice ou eu poderia estar no estúdio com muitas pessoas. Eu amei trabalhar com, claro, Bradley [Cooper] na música para o filme. Para Chromatica, no entanto, realmente começou com BloodPop. E alguns dias eu ficava no estúdio apenas com Ben. Ben grava meus vocais, mas eu tenho que dar crédito para ele por ser um produtor por mérito próprio. Ele é incrível. Ele produziu “Shallow” comigo.

Nós trabalhamos mais no estúdio Frank Zappa. Tem uma sala de gravação completa e uma sala de comando. Tem cabines lindas, de ressonância enorme com 30 metros de altura e linda acústica. Escrevemos, caramba, eu diria que 50 músicas, 100 músicas, eu nem sei mais.

Escrevemos muitas músicas. E então eu queria escrever, tipo, mais umas 20. Eu achei que Blood iria me jogar para fora [Risos]. Mas ele não jogou. Ele entendeu que eu queria “enxaguar” o álbum. Foi o que eu disse. Eu chamo de enxaguar. É como enxaguar a composição. Eu queria garantir que não havia mais nada dentro de mim para esse álbum.

Então, um dia, Blood disse para mim, “Ok, é hora de sair do estúdio.” Eu achava que o que ele queria dizer era, “É hora de você deixar essas coisas que estão te machucando para trás. É hora de deixá-las ir. Vamos terminar no estúdio Jim Henson.” Fomos lá. E todo mundo foi junto e – ouça, as regras que tenho com todo mundo é que temos que colaborar uns com os outros, todos têm que ouvir tudo, todos têm que trabalhar juntos, não gosto de egos. Eu gosto de colaboração. E eu gosto que a arte seja prioridade.

Isso, para mim, é o coração de Chromatica. É a capacidade de um grupo artístico operar a serviço de apenas uma coisa, que é espalhar cor e gentileza para o mundo. E como torná-lo melhor. E se não estiver melhor, voltar atrás. Se eu tiver adicionado coisas demais, recuar. Se não tiver o suficiente lá, temos que amplificar. Se o álbum não está certo, reescreva o álbum. Se a melodia não estiver caindo bem, reescreva a melodia. Se a composição não está saindo da minha boca imediatamente, reescreva a letra – é uma consoante agora e não uma vogal. É a minúcia e a arte da poesia e criatividade na música. Nós todos nos reunimos e celebramos. Me trouxe de volta para a vida de tantas formas.

Como foi trabalhar com Elton John em “Sine from Above”?

Ah, Elton é família. É maravilhoso trabalhar com Elton. Ele tinha começado [a música] primeiro e então ele me mandou, eu ouvi, amei e então a terminamos e eu enviei para ele e disse, “Você gostou, você gostou?” Ele amou. Nós decidimos gravar a música e foi muito especial. Eu amo aquela música mais do que tudo. Eu lembro que quando estávamos terminando, foi complicado – eu pressionei o pessoal para terminá-la com um som bem veloz no final. Apenas uma explosão sônica. Foi porque eu queria – Eu queria que essa música tivesse um alcance, onde começasse de forma orgânica e melódica e então terminasse em algum tipo de cacofonia. Uma cacofonia com o qual estou confortável agora. Eu acho, sabe, que quando você passa por coisas difíceis, não é necessariamente sobre essas coisas difíceis passarem para você ficar bem. Eu acho que é sobre ficar bem apesar das coisas difíceis. É construir resiliência. “Sine From Above” é muito sobre resiliência.

A música, “Fun Tonight,” de Chromatica tem um gancho vocal grudento que fala, “I’m feelin’ the way that I’m feelin’, I’m feelin’ with you!” Quando você cria uma melodia como essa, o que vem depois?

Nós comemoramos! Gritamos! Cantamos, gravamos. Eu gosto de cantar no microfone quase o tempo todo que estamos escrevendo. Gosto de gravar as coisas para que eu não esqueça. Mas eu tenho uma teoria de que se você esquecer a música é porque ficou uma merd* e não deveria ser gravada. [Risos] Então, aquela música em específico – aquela música, meu Deus, eu amo aquela música. É quase impossível para mim ouvi-la, no entanto. Acho que é uma das músicas mais tristes do álbum. Acho que é a música mais triste. Porque eu realmente estou cantando para mim mesma.

Eu era meio incapaz em certos momentos de ficar feliz por outras pessoas quando elas estavam se divertindo. Eu pensava, “Não importa quantas pessoas eu veja dançando ou sorrindo agora. Não consigo me divertir.” Então depois que eu escrevi o álbum, eu voltei a ouvir a música e disse, “Estou cantando para mim mesma.” Sabe, eu disse, “Estou sentindo da forma que estou sentindo com você / Eu encaro a garota no espelho / ela também fala comigo.” Aquela garota sou eu, certo? Então eu digo, “Eu posso ver nos seus olhos,” que são os meus olhos!, “Eu posso ver em seus olhos, que estão procurando pelo melhor / Estou cansada de fingir que estou me divertindo esta noite. Posso ver em seu rosto.” Significa meu rosto. Posso ver em seu rosto – “Você acha que não estou fazendo minha parte.” Digo, é apenas a verdade. Eu era muito dura comigo mesma. Espero que quando as pessoas escutem essa música e se identifiquem, saibam que se envergonhar por se sentir deprimido não é útil. Acontece, mas não é útil. Porque você está apenas se chutando quando você já está no chão. Você não faria isso com um amigo, faria? Se eles estivessem tristes, você não diria, “Oh, você é um saco por estar triste!” Certo? Você os abraçaria. Você os animaria. Eu acho que nossos maiores inimigos somos nós mesmos. Eu digo isso em “911” – meu maior inimigo sou eu mesma. Eu digo coisas maldosas para mim mesma na minha cabeça o tempo todo. E eu tenho que ignorar e me lembrar de que é uma voz ‘‘minha’’ na minha cabeça. Mas essa não sou eu realmente. A verdadeira eu nunca diria isso para ninguém. Então por que diabos estou dizendo isso para mim?

Fim da entrevista.

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Fonte

Tradução por Vanessa Braz de Queiroz

Revisão por Vinicius Bertozzi

Imagem: Norbert Schoerner / Divulgação: American Songwriter