Na última quinta-feira (28), o site Pitchfork fez uma publicação relacionada ao "reinado do grotesco no pop", no qual destaca os momentos de "loucura" e "estranheza" acertivos de sucesso que se tornaram icônicos no mundo pop.

Citando diversos cantores e alguns de seus trabalhos, tanto de forma positiva quanto negativa, o site enfatizou a contribuição de Michael Jackson e Lady Gaga para que trabalhos como esses mudassem o cenário pop e se tornassem interessantes.

Em seu texto, o site cita os icônicos videoclipes de "Thriller", para falar de Jackson, e de "Paparazzi", para falar sobre Gaga.

Leia os trechos principais traduzidos:

"O Grotesto Não É Mais Chocante no Pop

De 'Thriller' aos primeiros vídeos de Lady Gaga à sede de sangue de 'After Hours' do The Weeknd, nós percebemos como as imagens de horror se tornaram comuns no meio das estrelas pop.

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O grande flerte do pop com o grotesco pode ser visto em 1983, quando 'Thriller' de Michael Jackson mudou o cenário dos clipes musicais pra sempre. O curta-metragem exagerado do diretor John Landis, complementado com os efeitos visuais do lendário maquiador Rick Baker, é tão severamente explícito quanto macabro, visuais de alta definição da última década, mas esse é logicamente o cerne de origem para a estética. A submersão de Jackson, o rosto cadavérico, sua transformação torturante em lobisomem, e o exército de zumbis em decomposição junto da euforia pura daquela canção pop perfeita.

'Thriller' teve um impacto massivo no universo pop, mas esse interesse pelo grotesco não foi totalmente adotado pelo gênero musical até décadas depois. Entre 2008 e 2011, uns poucos momentos-chave redefiniram a imagem do artista pop star - muitos desses momentos performados por Lady Gaga e seu time de criadores. As contribuições de Gaga para a reforma sangrenta do pop são consideráveis: o vestido de carne. A indumentária de superfície lisa e vermelho-sangue em 'Alejandro'. Aquela sereia alternativa com a pele exposta em 'Yoü and I'. Porém, de fato começou com o videoclipe 'Paparazzi' de Jonas Akerlund, uma incursão inicial moderada no macabro. Gaga colapsa ao chão em direção à aparente morte com uma rachadura craniana. O câmera logo muda sua perspectiva enquanto sangue fresco se espalha da ferida na cabeça. Várias tomadas retratam mulheres que acabaram de morrer: da sugestão de suspensão e sufocamento por forca à tiro de bala entre os olhos. No MTV Video Music Awards de 2009, Gaga performou a canção enquanto sangue falso escorria de seu abdômen. Não um gotejar artisticamente planejado, mas o vermelho do sangue derramado sobre suas pernas num frenesi. Ela então espalhou o resto do sangue pelo rosto.

Foi também em 2009 que a admiração de Gaga pelo estilista Alexander McQueen, um provocador bem sucedido do grotesco, se tornou publicamente conhecida. Em Outubro do mesmo ano, McQueen lançou sua coleção Plato's Atlantis transformando as modelos em criaturas reptilianas sobre saltos-plataforma altíssimos. Semanas depois, o visual diferenciado de Gaga em 'Bad Romance' exibia a aparência de implantes subdermais por toda a sua espinha dorsal e uma pose ao estilo Plato's Atlantis na cena final: um mini-vestido todo ornado com brilhos. A cantora usou a roupa como se fosse uma segunda pele, como uma mulher-lagarto bípede espreitando pelo videoclipe. Aquela foi a última coleção de McQueen em vida. Quatro meses depois, o estilista se enforcou em sua casa em Londres.

A morte de McQueen teve um impacto profundo em Gaga; ela escreveu 'Born This Way' pouco depois, declarando em uma entrevista que o espírito do estilista psicografou através dela. No clipe e nas imagens da canção, ela enfatizou protéticos angulares em seu rosto idênticos ao trabalho de maquiagem em Plato's Atlantis. O álbum 'Born This Way' foi lançado em 2011, no mesmo mês da abertura da exposição Savage Beauty de Alexander McQueen no Museu de Arte Metropolitana, mostrando uma retrospectiva da carreira em louvor ao estilista. Foi uma das exibições de maior sucesso na história do museu, atraindo cerca de meio milhão de visitantes no decorrer dos três meses da mostra. As obras intrigantes criaram uma objeção no público, porém acima disso, expôs milhares de pessoas às obsessões mórbidas de McQueen, bem como sua habilidade inigualável de transparecer-lhes sua exoticidade. 'Eu encontro beleza no grotesco', ele disse certa vez, 'Eu tenho de forçar as pessoas a realmente prestarem atenção nas coisas'.

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[...] Ao passo que Gaga pontuou de maneira planejada cada escolha de estética no início de carreira, Eilish revelou seu lado macabro com nada mais que uma aterrorizante revirada de olhos. Mesmo que a introdução de ambas à fama se distancie por uma década, Gaga e Eilish representam dois extremos do fenômeno pop grotesco. Uma tocou o sino para anunciar sua chegada, a outra fez pouco caso de sua relevância. A postura de Eilish espelha a do público: Não tem como nos chocar mais com a arte ultrapassada da carnificina.

Com o lançamento de seu último álbum 'Happier Than Ever', Eilish se juntou a The Weeknd no abandono ao grotesco. Ela tirou as lentes de contato pretas e cabelo verde-slime. Não há mais lodo em seus novos clipes, que também carecem a falta de corpos levitando, cenas de hospital, e agulhas hipodérmicas. Gaga ainda hasteia sua bandeira da loucura, mas hoje em dia ela está mais interessada em planetas distantes governados por aliens dançarinos do que interessada em perverter a aparência física da forma humana. Por mais glorioso que o reinado do grotesco no pop tenha sido, parece que está nos suspiros finais - e será necessário mais do que um Ed Sheeran para ressuscitar a carcaça do pop".

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Fonte

Tradução por Perfume Tropical