Em recente publicação, a Time, uma das mais conhecidas revistas de notícias semanais do mundo, publicada nos Estados Unidos, falou sobre Lady Gaga e os últimos caminhos que sua carreira tem tomado, desde ARTPOP, em 2013, até sua mais recente performance no Grammy Awards deste ano, onde fez um tributo a David Bowie. Confira o artigo completo:
A cantora pop está criando um novo tipo de fama, assim como Bowie fez.
Depois de seu incrível tributo a David Bowie no Grammy Awards desse mês, Lady Gaga está no meio de um grande retorno. A estrela, que há apenas dois anos enfrentava a ameaça do público perder interesse em seu trabalho, novamente se tornou uma das artistas mais comentadas do planeta – e ela fez isso sem realmente lançar um álbum com material novo. O domínio de Gaga, provado este mês no Grammy Awards e prestes a ser comprovado no Oscar que está por vir, é frequentemente creditado ao seu estrelato à moda antiga, comparável a qualquer um, desde Elton John, Cher, Bette Midler, até o próprio Bowie. No entanto, isso também é uma prova de um ciclo de imprensa cada vez mais rápido que Gaga dominou melhor do que qualquer um.
A estratégia desde antes do Oscar do ano passado, tem sido bem direta: criar uma série de momentos de fácil digestão, não controversos, que mostram a cantora da melhor forma possível. Seu tributo a Bowie, por exemplo, foi visto como "ousado" mas não tomou nenhum risco maior do que organizar um conjunto de canções conhecidas em um tom apropriado para a grande e forte voz de Gaga. É fato que tudo foi "embrulhado" como um anúncio para a Intel enaltecendo a inovação de Gaga, o que levou a algumas críticas que diziam que a apresentação foi um pouco egoísta. Porém, é difícil pensar em uma carreira pop construída em altruísmo, e o foco de Gaga em manter os holofotes sobre si provou que ela era a herdeira de Bowie – se não a melhor equipada para oferecer emoção sincera.
É provável que sua performance no Oscar de "Til It Happens to You", uma canção do documentário sobre estupro em universidades, "The Hunting Ground", vai andar numa corda bamba semelhante: destinada a honrar uma tragédia, mas ao mesmo tempo servindo para um momento "diva" que pode definir sua carreira. (Seu vocais são tão crescentes quanto a mensagem da musica é consternada). A um certo grau, no entanto, Gaga está operando em um nível incomum o suficiente para que ela não possa mais ser significativamente acusada de oportunismo. Sem músicas novas para divulgar, ela é uma espécie de bardo nacional da música: seja comemoração (o hino nacional do Super Bowl, o Kennedy Center Honors) ou triste, sua carreira agora consiste em subordinar tudo o que nós pensamos como sua própria imagem a serviço de alguma outra mensagem.
A dominação de Gaga sobre a imaginação do público tem recentemente sido ainda mais complicada, e fornece uma boa razão para ela ter se retirado da conversa da música pop. O último álbum com material original de Gaga, ARTPOP, de 2013, indica que ela perdeu, mesmo que temporariamente, o equilíbrio na corda bamba da provocação. Foi uma série de ideias e declarações filosóficas com pouca musicalidade. O álbum vendeu pouco (pelo menos para os próprios padrões da cantora) e criou mais manchetes para o videoclipe engavetado de Terry Richardson do que para qualquer música. Isso está acontecendo faz tempo: o álbum de 2011 de Gaga, "Born This Way", em muitos aspectos sua obra-prima, era muito longo por um terço e teve tantas ideias não cumpridas como também gerou ótimas ideias. Em sua vida musical, Gaga há muito tempo pecava na capacidade de editar.
Em contraste, suas apresentações recentes têm sido notavelmente diretas e curtas. No Oscar do ano passado, foi só um medley de músicas de "The Sound Of Music" cantado a plenos pulmões e cantado bem. Apesar de ter passado tarde da noite, os espectadores poderiam ser perdoados por querer mais. Isso seguiu "Cheek to Cheek", seu álbum de inimagináveis porém críveis covers de Jazz com Tony Bennett, e foi seguido por um papel como a rainha vampira em "American Horror Story" no último outono, notavelmente menos por sua atuação com calibre de Jessica Lange do que pelo modo como isso a posicionou. Conforme o resto do elenco girava suas engrenagens, Gaga aparecia em algumas cenas por episódio, com roupas especialmente escolhidas, e enunciando cuidadosamente falas perfeitamente calibradas. Foi uma performance, como todas as suas aparições recentes na televisão, em que ela estava pronta para arrasar.
O fato de ela ter ganho um Globo de Ouro por sua performance pode ser uma ênfase desnecessária a isso (ela foi boa no que muitos veem como uma participação estendida de uma diva), mas a ocasião provou o quanto Gaga pode brilhar em um pequeno frame. Em um curto discurso de agradecimento, seu artifício (comparando suas emoções ao momento da performance de Cher em “Moonstruck” de John Patrick Shanley) foi delicioso. De fato, sua caminhada ao pódio gerou o momento mais memorável da noite: Leonardo DiCaprio assustado com sua estranheza, seriedade, ou apenas o fato de que ela estava lá.
Lady Gaga pode manter seu título como a primeira dama de programas televisivos de domingo à noite por apenas algum tempo. Eventualmente, deverá haver uma nova justificativa para convidá-la a se apresentar, com novas músicas originais. Mas isso pode não acontecer por um tempo. Rihanna só ficou mais interessante para seus fãs em seu hiato de mais de três anos logo antes do lançamento do “ANTI”, enquanto Beyoncé gerou um pandemônio com o lançamento de um single, “Formation”, sem ligação com notícias de um novo álbum. E Kanye West gerou mais notícias ainda com anúncios e intrigas pelo Twitter antes de lançar seu álbum, “The Life of Pablo”, do que com as músicas em si.
Quem precisa de material novo na mídia quando tudo – todos os covers em premiações, todos os figurinos de tapete vermelho perfeitos, ou em uma série de TV – pode gerar cópia? No momento, lançar um álbum com novas músicas – músicas que os espectadores podem julgar fora do ambiente de premiações comentadas no Twitter – é a coisa mais perigosa que Gaga poderia fazer. Sua carreira estacionou porque ela estava muito interessada em nos contar suas grandes ideias sobre fama. Agora, ela está perto de reconquistar seu trono nos mostrando que ela entende a natureza insubstancial da fama melhor do que ninguém, sendo considerada uma corredora do risco sem arriscar nada.
Tradução por Mariana Guedes e Daniel Corzo