O The Telegraph publicou, na última quarta-feira (19), sua review para o novo álbum de Lady Gaga, Joanne, sendo o responsável pela maior nota até agora no Metacritic.

Leia a review traduzida:

NOTA: 80

Será que Gaga se endireitou? Ela aparece sem maquiagem na capa do álbum onde influências de blue, country e rock vem à tona. Stefanie Joanne Angelina Germanotta (para dar o nome completo dela) tem sido a pop star mais inconstante, mais determinadamente peculiar e escandalosa do nosso tempo, mas sobre a fantasia existe a espreita uma musicista, cantora e escritora totalmente realizada. ARTPOP, de 2013, foi seu álbum mais estilizado, e foi o que fez menos sucesso (2.5 milhões de cópias vendidas, opondo-se ao The Fame com 15 milhões), ou porque sua provocante coragem começou a alienar as audiências mainstream [grande público] ou porque as músicas pop não eram boas o suficiente. Seu quarto álbum parece se encaixar aos dois quesitos.

Apesar de Joanne ser um dos seus nomes do meio, Joanne foi a tia de Gaga que morreu em sua juventude, 11 anos antes de Gaga nascer, mas se tornou um símbolo para Germanotta. A faixa título é bela, cantada com alegria, uma mid-tempo acústica adorável que é sobre perder alguém que se ama e adocicada com instrumentos de corda orquestrais e cantada com uma clareza direta, enfatizando temas sobre viver uma vida cheia de propósitos. Não é a música mais descomplicada e antiquada no álbum. Million Reasons é uma balada country que Carrie Underwood mataria para ter. Come To Mama é essencialmente uma animada música Broadway sobre amor universal, completada com backing vocals elegantes e rítmicos. A música que fecha o álbum, Angel Down, é uma majestosa balada no piano com uma elegante melodia pesarosa e com sentimentos quase religiosos sobre a salvação da nação. (“I’m a believer... where are our leaders?”). Você poderia imaginar todos desde Elvis Presley até Celine Dion mergulhando-se nisso.

Tradução livre: Eu sou uma crente... onde está nossos líderes?

Não é tudo formulado para se ouvir na estrada, mas não existe nada aqui que vá assustar a sua avó. A faixa que abre o álbum, Diamond Heart, plana de uma intro de piano dos anos setenta para se tornar um enérgico hino pop-rock sobre sobreviver a estupro (“Some asshole broke me in / Wrecked my innocence”.), com guitarras fortes e um vocal provocante o qual Gaga diz ser uma “americana jovem e selvagem.” A-YO é um rock meio blues espremido com um pouco de hip-hop produzindo um efeito vibrante, com batidas de guitarra entregues com sons sintéticos deslocados ao invés de uma guitarra principal repetitiva e clichê. Produzido por Mark Ronson (colaborador de grandes faixas que vão de Amy Winehouse, Adele até Bruno Mars em Uptwon Funk), Joanne expõe uma galáxia de talentos do pop alternativo (Beck, Josh Homme, Florence Welch e Kevin Parker do Tame Impala) e tem uma maravilhosa profundidade e elegância. Sequências de acorde são animadas e agradáveis, as melodias fluem e flutuam; a parte rítmica acumula arranjos panorâmicos que são cheios de detalhes sônicos coloridos.

Tradução livre: Um filho da puta me quebrou/Destruiu minha inocência.

A frase “Young wild american” [americana jovem e selvagem] na faixa que abre o álbum inevitavelmente trás a memória Young Americans [álbum de David Bowie], quando o herói de Lady Gaga, David Bowie modificou o R&B Americano para seu próprio jeito, conseguindo alcançar ouvintes mais conservadores e populares e ainda assim conversando sua natural peculiaridade que atraiu uma base de fãs alheia aos gostos mais comuns. Não estou convencido de que Gaga usou o mesmo truque. Tendo crescido com uma campeã dos estranhos e vulneráveis, eu me pergunto o que seus “little monsters” vão fazer com John Wayne, uma dançante e divertida música “de celeiro” que celebra a atração ao cowboy malvado e macho? Yee-haw!

Eu me lembro quando entrevistei Lady Gaga no começo de sua carreira, ela me disse que usava autotune, não porque não conseguia cantar, mas usava porque era isso que os jovens esperavam ouvir num álbum pop. Em Joanne, ela quer mostrar para as pessoas que ela sabe cantar. E ela sabe mesmo. Mas esse tom cru, alto, flutuante e blues da Broadway e certamente não é o que jovens esperam ouvir em um álbum. Uma crítica (de uma publicação rival) do primeiro single, o agitado Perfect Illusion, reclamou que Gaga não usou o controle de tom na música. Seu grande comeback, não foi exatamente um hit monstruoso quando comparado com seus outros sucessos, alcançou #12 no Reino Unido e #15 nos Estados Unidos. E essa é a música mais direta para ser tocada em baladas de todo o álbum.

Com grandes músicas e grande produção, Joanne certamente soa certo para os negócios. Ainda que sua modernidade é expressada por mixagem e combinações de gêneros ou adicionando a galvanização digital para sons familiares; por toda sua exuberante coragem e pop habilidoso é antiquado por dentro. Entenda dessa forma: Robbie Williams ficaria extremamente feliz com um álbum desses, Drake e Rihanna... não tanto assim.

Quando você vai para o extremo da sua imagem, usando um vestido de carne e chapéus de lagosta, talvez a mudança mais atrevida que esteja sobrando seja tirar a mascara e se mostrar como você mesmo. Lady Gaga, é na verdade, uma rock-n-roll show girl por dentro.

Notas para álbuns anteriores:

Born This Way: 80
ARTPOP: 80
Cheek To Cheek: 60

Tradução por Bruno César

Revisão por Kathy Vanessa

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