Que Lady Gaga é capaz de se reinventar diversas vezes, isso é fato, mas e se livrar de todos os seus artifícios para um filme, seria possível? A resposta é... Claro! A forma como a cantora lida com seu trabalho é admirável, ela não mede esforços para criar o que pretende, e assim chegar a seu objetivo .
Como em "Nasce Uma "Estrela", onde a cantora se livrou de todas as maquiagens e vestimentas que a cobriram por anos em sua carreira, oferecendo algo mais cru, sem deixar de ser chamativo e emocionante. Ally tem muito a nos mostrar.
Mesmo em uma era mais básica, como "Joanne", Lady Gaga não nos deixou na mão, trazendo músicas emocionais incríveis, como também faz no filme. Entretanto, se formos reparar em algumas de suas recentes aparições, a cantora tem sido mais "agressiva e elegante" em seus visuais, trazendo algo de classe, como no Jazz, com uma pegada exagerada também, como em seu início pop. Seria esse um retorno ao mesmo?
Abordando de forma mais profunda os assuntos citados, a NME publicou um artigo nesta quarta-feira (03), onde relatam sobre o "lado pop" que está presente no filme, os atuais trabalhos e colaborações de Gaga, suas aparições de forma diferente e um possível retorno aguardado ao pop. Trazendo a "divindade da cultura pop que ela provou ser".
Leia o artigo completo traduzido (CONTÉM SPOILER):
"'Nasce Uma Estrela' coloca Gaga de volta ao topo, mas por que a música pop é a vilã do filme?"
Na Pop Is Not A Dirty Word dessa semana, o colunista Douglas Greenword antecipa o retorno do enigma mais icônico da cultura do pop moderno, dessa vez, como uma atriz, e se a estrela que revoluciona culturas vai voltar a ter toda a atenção sobre ela de novo.
A indústria deixou Lady Gaga ter seu momento: quatro anos inacreditáveis entre 2009 e 2012, durante esse período ela tinha o mundo em suas mãos. Qualquer ação, palavra, e roupa que ela nos entregava à rendia uma manchete. O público geral era obcecado com cada single novo. Os hits, humildemente produzidos como Eurodance, mas entrelaçados com sua atitude excêntrica como uma escritora, pareciam ser o ápice de seu sucesso.
Mas em algum ponto entre o finalzinho da era "Born This Way" e o som hiperativo ao estilo "visite a Berlim uma única vez" de "ARTPOP", a relevância mainstream de Gaga foi ladeira a baixo, e a resposta ao seu álbum realmente muito bom "Joanne" foi muda.
Seus singles não atingiram as paradas do jeito que eles costumavam fazer, e rapidamente todo mundo já tinha mudado para algo novo. Nossa coluna recente sobre a semântica do flop, passa sobre esse assunto mais a fundo.
Mas como uma fênix nascendo, Gaga entrou em uma nova era que deixou todo mundo falando de novo. É catalisador? Um papel principal brilhante em "Nasce Uma Estrela", o filme de estreia como diretor de Bradley Cooper, que já deu ao ícone de 32 anos sérias esperanças ao Oscar.
No filme, que estreou com resenhas brilhantes pelos críticos, Gaga interpreta Ally, uma garçonete com uma tremenda voz, cujo lançamento no mundo da música é uma performance ocasional em um bar drag no centro da cidade. Quando um rockstar grisalho, interpretado por Cooper, se depara no bar uma noite, ele se apaixona por Ally, ao presenciar ela entregar uma releitura emocionante de "La Vie En Rose" de Edith Piaf. Se conectaram instantaneamente um pelo outro, um caso de amor que coincide com a primeira experiência de um sucesso pop que Ally sempre sonhou.
Músicos indo da música ao cinema é um movimento ousado que não deu muito certo aos seus antecessores (Rihanna, eu te amo, mas literalmente todos os seus filmes são horríveis), mas o investimento de Gaga em sua estreia como protagonista é tão forte que ela está praticamente irreconhecível. Isso não é uma jogada artificial referente ao seu muito discutido look mais calmo, é uma prova de suas habilidades como uma atriz sincera. Ela muda tudo, desde seus trejeitos ao conversar até seu estilo único de performar, deixando para trás sua própria narrativa do mundo pop, por mais que a história de Ally chegue perto da sua própria.
Mas tem uma coisa que me dói dizer. Por mais que me desaponte muito, o pop é um inimigo ácido que fica lado-a-lado do abuso substancial em "Nasce Uma Estrela". É o maior marco de compromisso; um sinal de que o personagem de Gaga teve que sacrificar controle criativo para que consiga ser a estrela massiva e bem-sucedida que ela é.
O filme mostra sua ascensão ao estrelato, junto de falsidade e desapontamento, ao contrário do rock’n’roll "autêntico" de Bradley Cooper. Por mais que eu ache essa visão de como as estrelas pop funcionam em 2018 datada, eu estaria mentindo se eu dissesse que a música pop não é mais cheia de lixo e com falsas esperanças de artistas novos que tiveram que sacrificar tanto da sua criatividade para conseguir chegar lá.
Mas em um filme que parece ser um remake "consciente" das versões que vieram antes em todos os aspectos, é triste ver o pop sendo tratado como um estereótipo fraco, ao invés do empoderador e revolucionário gênero que ele é ultimamente. Talvez eu seja ingênuo, mas eu sinto que nós chegamos em um ponto onde nós extinguimos os tipos fabricados e coercivos da música pop para trazer luz àqueles que estão: a) se saindo bem, e b) felizes em serem vistos como "estrelas pop" e carregam o seu fardo, e a bagagem de ignorância que os ronda.
Mesmo assim, "Nasce Uma Estrela" parece um ponto de renascimento fresco e natural para alguém que vem sendo ignorada injustamente pelas paradas e rádios durante os últimos anos, sendo taxada de "garota do pop genérico" quando seus múltiplos talentos sempre a diferenciaram do resto do rebanho.
No fim das contas, ela é a única pessoa com audácia suficiente para tentar coisas novas com paixão genuína ao invés do desejo de dinheiro rápido, e ela receberá as recompensas na temporada de premiações. A residência em Vegas que começa em dezembro está prestes a coloca-la em uma seleta lista de lendas da música (Elton, Mariah, Britney) e seu próximo álbum solo pode ser o mais audacioso, com produções de SOPHIE e com o diretor criativo de Kanye West Eli Russell Linnetz, já inclusos no projeto.
A internet está louca pelo filme e pelos looks no tapete vermelho usados por Gaga, junto da promessa de músicas mais pop ao caminho. Estaria o público geral disposto a ouvir os fãs do Twitter e dar uma chance a Lady Gaga de retornar ao topo? Eu realmente espero que sim.
Depois de um curto período longe dos olhos públicos, hoje, o dia que "Nasce Uma Estrela" chega aos cinemas, marca o dia que Lady Gaga realmente volta aos holofotes. Ela retorna carregando as cicatrizes de uma meia-década complicada, mas sempre mostrando que é a divindade da cultura pop que ela provou ser.
Douglas Greenwood
A soundtrack de "Nasce Uma Estrela" tem seu lançamento marcado para 5 de outubro.
O filme "Nasce Uma Estrela" tem sua estreia marcada para 5 de outubro, sendo 11 de outubro no Brasil.
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Tradução por Vinicius Colombo
Revisão por Kathy Vanessa
Imagem: Reprodução / NME