Nesta sexta-feira (29), o sexto álbum de Lady Gaga, "Chromatica", foi lançado e, com isso, diversas críticas estão sendo divulgadas por veículos de comunicação especializados.

O jornal britânico The Guardian publicou a sua review, dizendo que o "Chromatica" é o álbum mais pessoal de Gaga e deu 4 de 5 estrelas para o disco.

Confira a review traduzida:

Lady Gaga: review de "Chromatica" - Gaga redescobre a rebelião no seu álbum mais pessoal

Retornando para o som do seu auge maximalista eletropop, Gaga explora os traumas e distúrbios mentais enterrados e as complexidades da fama neste retorno à forma.

Uma crítica frequentemente dirigida a Lady Gaga é que a imagem fantástica que ela constrói ao redor de seus álbuns ofusca a própria música. Mas é uma escala deslizante - e uma que certamente importava menos quando ela estava destruindo com músicas inegáveis dance-pop de festas como "Poker Face" e "Just Dance", ou consolidando seu status como aberração extravagante do pop na doentia "Bad Romance". Ela aparecer de forma similar com um alien naquele vídeo da música fez perfeito sentido: aqui estava uma superestrela pop camaleônica na veia de Bowie, Prince e Madonna abrindo um portal para uma dimensão de escape. Mais tarde, fez sentido ela se apoiar na imagem do hair metal no glorioso OTT de 2011, fazendo referência ao Springsteen em "Born This Way". Ainda em 2013 lançou "ARTPOP" - anunciado como uma exploração do fenômeno "Warholiano reverso" na cultura pop, seja lá o que for isso, e com participação de pelo menos uma performance à qual ela contratou uma "artista de vômito" para vomitar tinta verde no seu peito - a estética pareceu muito mais como uma tática desesperada de distração.

Parecendo ferida pelo fracasso comercial relativo do álbum (2.5m de vendas globais comparada com o álbum de estreia "The Fame" com 15m), ela renegou o dance-pop de vez com "Joanne", de 2016. Chapéus absurdos de lagosta e vestidos de carne vigorosos foram trocados por chapéus rosa e shorts jeans, enquanto o synthpop agitado do produtor RedOne foi substituído pelo calor rústico de Mark Ronson. Os colaboradores incluem Florence Welch, Josh Homme e Father John Misty, enquanto o som mais discreto forçava a afirmação "roquista" de que mais sossegado de alguma forma significa mais autêntico. Seu sucesso mediano foi rapidamente ofuscado pelo filme vencedor de Oscar e que esteve no topo dos charts, "Nasce Uma Estrela", onde a personagem de Gaga, Ally, foi trancada em uma guerra de pop plástico x autenticidade profunda de rock.

Mas, como sempre, é sobre o conjunto, e "Joanne" foi um convencionalismo tanto quanto "ARTPOP". De muitas formas, o "Chromatica", livre de músicas lentas e pronto para as pistas de dança, representa não só o álbum mais pessoal de Gaga, mas o mais objetivo. Obviamente há um contexto conceitual - aquele título, apesar de soar como uma atualização de software do Mac, na verdade representa um planeta ancorado pela igualdade e habitado pelos "Kindness Punks" - mas parece muito mais leve do que antes. Como Gaga disse em uma entrevista recente com Zane Lowe, ela priorizou "mensagens simples", uma frase que teria se virado "Warholianamente" contra ela alguns anos atrás.

Tirando o divertido e estúpido single "Stupid Love", a maioria das 13 curtas e objetivas músicas de "Chromatica" (ignorando três interludes de orquestras que parecem ter sido transportadas de outro álbum) cavam para dentro da pessoa por trás da fachada. Na peça central obscura "911", ela detalha sua dependência a medicamentos antipsicóticos ("Mantenho minhas bonecas dentro de caixas de diamantes / Guardo até eu saber que vou parar com esse fingimento") por cima de sintetizadores industriais em um turbilhão, enquanto a música de abertura "Alice" rejeita a obsessão destruidora de Gaga com a perfeição por cima de uma açucarada confecção house. Enquanto isso, "Babylon", impulsionada pelo clássico house piano e um coral de agitar a alma, consegue fazer o truque de Gaga de confundir o grande e o pequeno, tocando na Bíblia, mitologia antiga e, como ela tem feito desde o início, as complexidades da fama.

O processo de cura da dança, cruelmente frustrado pela situação atual de lockdown, se acelera pelo álbum como aromatizador, com o house pop dos anos 90 do dueto com Ariana Grande, "Rain On Me", que reconhece o trauma antes de levá-lo para uma provincial grudenta de pista de dança. A colaboração absurda com Elton John, "Sine From Above" - que, com sua batida com flauta de pã e uma adrenalina eufórica imparável, poderia ganhar o Eurovision de qualquer ano - cava profundamente na simples ideia de que a música pode tranquilizar até mesmo a alma mais danificada.

Aquela música termina com uma mudança inesperada de bateria e baixo de sacudir a cabeça, um sabor fugaz de experimentação que parece estranhamente ausente em outro lugar. Apesar dos melhores trabalhos de Gaga terem sido feitos de maneira rápida, frequentemente na estrada nos ônibus de turnê, as músicas de "Chromatica" foram passadas de produtor para produtor aparentemente para liberar o processo. (Estranhamente, esse é o primeiro álbum que não tem a participação de Gaga como produtora, com os créditos nomeando todos desde BloodPop ao produtor de EDM, Axwell, ao vendedor de barulhos, Skrillex, enquanto a produtora maximalista de pop, Sophie - que confirmou seu envolvimento em 2018 - é notavelmente ausente.) Em momentos, como no genérico golpe duplo Eurodance de "Free Woman" e "Fun Tonight", as músicas parecem exageradamente sobrecarregadas: às vezes o frequente curto tempo de execução nega a elas espaço para respirar (a claustrofóbica "Plastic Doll"). "Sour Candy", uma colaboração com o grupo feminino de K-pop, BLACKPINK, lamentavelmente cai por terra: mirando uma house profunda pulsante, acaba soando uma interlude corrida e produzida a preço baixo.

Gaga está em terreno muito mais seguro deslizando pelo espiral house francês de "Replay", que tem uma letra alarmante sobre enterrar os traumas em covas e arranhar a sujeira de sua mente. É outro exemplo de como, depois de anos usando sua música para tentar curar outras pessoas - seja a sua fã base com "Born This Way", ou sua família com "Joanne", um álbum nomeado em homenagem a sua tia falecida - "Chromatica" finalmente vira o olhar para dentro sem acabar com a festa. Previsivelmente, a Gaga mais verdadeira sempre será a mais barulhenta possível.

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Fonte

Tradução por Vanessa Braz de Queiroz

Revisão por Daniel Alberico