"Chromatica" é sem dúvidas um retorno triunfal de Lady Gaga a música pop. Lançado nesta sexta-feira (29), o álbum composto por 16 faixas em sua versão standard já está disponível em todas as plataformas digitais no todo o mundo. Com isso, a crítica especializada tem dado sua opinião sobre o novo lançamento da Mother Monster.

O site Pop Matters, conhecido por suas críticas especializadas no meio cultural, avaliou o novo álbum de Gaga com nota 70, de 100, no site Metacritic. Em sua review publicada nesta manhã (29), o site descreveu o disco como "um álbum completamente dinâmico e diferente de qualquer coisa em sua discografia" e o "mais animado e consistente que ela fez desde Born This Way".

Leia a tradução abaixo:

"‘Chromatica’ de Lady Gaga esconde suas intenções reais por trás da exuberância das pistas de dança

Chromatica de Lady Gaga é o álbum mais animado e consistente que ela fez desde Born This Way, abraçando tudo que é ótimo sobre seus dias de dance-pop e apresentando uma reviravolta refrescante.

Ela é uma das maiores estrelas pop da década, e ainda assim, depois de todo o sucesso nas paradas e prêmios, Lady Gaga se sente mais confortável por trás de uma máscara.

Do pop egocêntrico que nós conhecemos com o The Fame de 2009 ao personagem que ela arrastou para o palco durante a era Born This Way (cujo nome, para aqueles que estão anotando, era Jo Calderone), a reinvenção mal sucedida que ela tentou fazer no criticado Joanne até a reinvenção bem sucedida que ela conseguiu alcançar com o filme vencedor de Oscar em 2018 Nasce Uma Estrela, pode-se dizer que apesar do status de celebridade e da presença regularmente constante nas rádios, ninguém realmente sabe quem é a verdadeira Lady Gaga. Os fãs irão escrever sínteses brilhantes de álbuns criticamente injustiçados, ela irá se apresentar no show de intervalo do Super Bowl para um público de milhões, e ela irá revelar seus problemas médicos em um documentário da Netflix amplamente visto, mas no final do dia, "Lady Gaga" se sente menos como um ser humano e mais como uma construção, facetada com glitter, luzes de boate e talento puro à moda antiga.

Ainda assim, Gaga sempre foi mais inteligente do que seus contemporâneos do dance-pop. Ao criar essas personas públicas mutáveis e às vezes escandalosas, ela foi capaz de pegar toda a atenção e absorver toda a crítica igualmente, até mesmo colocando no Top 5 nos EUA uma música que contém a frase, "Em um segundo sou Koons / E então de repente o Koons sou eu." Ela entendeu que a música pop foi feita para ser ridícula, ou pelo menos, era memorável quanto mais absurda e campy. Havia pedaços de seus sentimentos e crenças reais em cada roupa ultrajante e projeto paralelo curioso. Apesar de mostrar partes de sua vida pessoal em Joanne, Gaga ainda se sentiu mais confortável em manter seus ouvintes a certa distância.

Tudo isso faz de Chromatica, seu sexto álbum de estúdio, um álbum completamente dinâmico e diferente de qualquer coisa em sua discografia. À primeira vista, é um álbum dance livre de conceito e de volta ao básico feito para ser tocado direto sem qualquer interrupção, se modelando de certa forma como a obra prima de Madonna Confessions on the Dancefloor de 2005. Com somente uma música passando da marca dos quatro minutos, ela arde através das 16 faixas em um total de 43 minutos, chegando ao final sem uma balada, o que é algo tão implacável quanto revelador.

Apesar do título forte e a existência de três interludes com orquestra (todas co-escritas pela brilhante Morgan Kibby de White Sea), Chromatica busca te fazer se movimentar. Apesar da estreia de Gaga em 2009 tecnicamente se esforçar para fazer o mesmo, sua gravadora ainda a forçava a fazer colaborações e estilos que ela não se sentia tão confortável, o tornando mais um sampler de um gênero contemporâneo do que um álbum dance direto. Depois do avanço de Gaga como atriz e sua vitória no Oscar, Gaga poderia ter ficado presunçosa e séria, mas ao invés disso ela foi contra as expectativas e fez possivelmente o álbum mais pop de sua carreira.

Apesar de todas as batidas reluzentes oferecidas pelos produtores BloodPop® e BURNS, Chromatica, em momentos, parece o álbum mais cru de Gaga, mesmo com todos os sintetizadores brilhantes e batidas agitadas. "Rain on Me", uma pulsante colaboração de hard disco com Ariana Grande e já um de seus maiores singles de todos os tempos, flutua através dos três minutos de execução tão rapidamente que você quase não percebe que é sobre abuso de álcool. Seu refrão repete a frase, "Eu prefiro estar seca / Pelo menos estou viva", uma afirmação triste apesar de todos os acordes brilhantes de guitarra. Em "911", ela fala sobre ingerir uma medicação antipsicótica, evocando sua própria era Eurodisco de Fame Monster. Ela nota como "Meu humor está mudando para lugares maníacos / Gostaria de ter rido e mantido as boas amizades" antes de admitir no refrão que "Meu maior inimigo sou eu desde o primeiro dia." Gaga ainda está escondendo vocoders e numerosos efeitos vocais, mas os melhores momentos de Chromatica são aqueles onde parece que a vida real de Gaga e suas experiências se infiltram nos intervalos dos ritmos 4/4.

Embora o álbum se inicie com sua faixa menos memorável (a agradável e talvez mediana "Alice"), a maior parte de Chromatica permanece descontraída e estupidamente divertida. Depois de já ter interpretado uma estrela pop em Nasce Uma Estrela e escrever números dance-pop que serviram como comentários do atual mercado das rádios, não há necessidade para meta-narrativa ou inversões de gênero aqui. Ao invés, Gaga usa Chromatica para explorar temas líricos e musicais que, se não são pessoais, são divertidos e às vezes absolutamente absurdos. O exuberante lead single "Stupid Love" se escora em cores DayGlo à medida que fala de querer amor e praticamente nada mais que isso. O dueto com Elton John "Sine From Above" termina em um colapso de bateria e baixo, porque não tem motivos para você não querer ouvir um dueto com Elton John terminar em um colapso de bateria e baixo. A colaboração no papel já é camp, mas a produção leva o conceito para uma sobrecarga absoluta.

Mesmo se Chromatica não for crítica do mundo que habita, é, pelo menos, auto-reflexiva, com Gaga interrogando não sua biografia, mas seu passado de estrela pop. "Você conhece os paparazzi, ama The Fame (a fama) / mesmo sabendo que isso me causa dor," ela canta em "Fun Tonight", como se estivesse lamentando que sua produção artística menos favorita continua sendo a mais popular. Similarmente, na faixa de destaque do álbum "Replay", ela aceita quem ela é artisticamente, notando que "o monstro dentro de você está me torturando", que é uma referência a alimentar sua devota fã base intitulada Monsters. "Monster" é um código dentro da sua fã base, e seu uso aqui é proposital, porque "demônio" também tem duas sílabas (em inglês) e alcança o mesmo efeito. "Todos os dias, yeah, eu cavo uma cova / Então eu me sento dentro dela, me perguntando se eu irei me comportar," ela lamenta por cima de uma batida paranoica feita de vocais arrepiantes de fantasmas.

No que pode ser seu maior ato de artimanha artística, Gaga parece estar em guerra com sua carreira nessas letras, acomodando essas batalhas em um álbum que foi feito para levá-la ao topo das paradas. Alguns podem ver essa jogada como grosseira, outros como genial, mas não importa a quão derrotada ou misteriosa ela fique em Chromatica, aquela tensão entre as palavras e o BPM imparável do álbum faz uma música pop extremamente irresistível.

Pesando menos por causa de músicas inferiores como "Alice", "Enigma", e a colaboração felizmente curta com BLACKPINK "Sour Candy", Chromatica não é uma obra prima de passagem plena. Ainda assim, dada a diversão estrondosa e os significados em camadas, é sem dúvida o álbum mais animado e consistente que ela fez desde Born This Way, abraçando tudo que é ótimo sobre seus dias de dance-pop e apresentando uma reviravolta refrescante, indo longe na sua imitação crítica de Madonna ao finalizar o álbum com "Babylon", uma reformulação lindamente descarada de "Vogue", se é que já teve uma. Lady Gaga pode estar escondendo por trás de uma máscara diferente dessa vez, mas ela nunca pareceu se divertir tanto como nessa nova persona radiante.


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Tradução por Vanessa Braz de Queiroz.

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