Cada geração de artistas é única, ímpar e sempre antecedida por outra, tão grandiosa quanto. Em um momento, uma geração é a influenciada por sua antecessora; em um outro, é ela a base para uma outra e nova geração de astros. Esse ciclo de inspiração na música é normal, frequente e esperado, também ditando o que influenciará os artistas do presente. É assim com Lady Gaga.

Nessa série de especiais, serão discutidas quais são as grandes influências da cantora entre os artistas que tiveram seu auge no passado e seus porquês, expondo seus principais pontos de inspiração, semelhanças artísticas e comparações quanto às sonoridades e posturas enquanto influenciadores.

Nesse quinto episódio do “Lady Gaga e suas Influências”, será celebrado o lado mais “lady” de Gaga, já que seu paralelo de análise será feito com ninguém menos que Barbra Streisand, uma artista que se encaixa bem na definição de lendária.

Que Stefani Joanne Angelina Germanotta é uma artista multidimensional o mundo já sabe. A mesma consegue ser uma obra de arte ambulante, uma roqueira voraz, adotar diversos alter egos, apresentar incontáveis figurinos em uma só noite de premiações ou ser a grande estrela pop que sabe muito bem incorporar enquanto Lady Gaga. Entretanto, seu lado glamurosamente clássico, quando no piano ou cantando jazz, ainda é muitas vezes deixado de lado por seus fãs. Em paralelo, Barbra Streisand é a personificação do primor, do talento e da excelência, não importando onde quer que esteja focando suas energias, seja no cinema ou na música. Há, portanto, muito de Barbra em Lady Gaga.

Streisand goza de um status cultural que apenas um outro grande artista norte-americano, como Frank Sinatra, chegou a conseguir.” - New York Times

Barbara Joan Streisand possui a carreira que qualquer artista almeja, independentemente do gênero ou estilo musical: a da aclamação em tudo que se propõe a fazer. Cantora, compositora, atriz, diretora e produtora cinematográfica, Barbra Streisand é vencedora de 2 Oscars, 10 Grammys (incluindo o Grammy Lifetime Achievement Award e o Grammy Legend Award), 5 Emmy, um Tony, 9 Globos de Ouro, 6 People's Choice, 4 Peabody, um Cable ACE, um American Film Institute e um Directors Guild of America.

Em 1970 e 1980, recebeu diversos prêmios que a creditaram como a “Estrela da Década”. Em 2015, foi considerada uma das dez melhores compositoras de todos os tempos pelo The Daily Telegraph, além de já ter sido incluída em diversos (senão todos) rankings sobre as melhores e mais queridas protagonistas de Hollywood. Está inclusa na lista da BBC sobre as “Vozes do Século 20”, no ranking das “100 Maiores Estrelas do Cinema de Todos os Tempos” da revista People e muito mais.

Barbra e Gaga já compartilharam um momento juntas nas redes sociais. Relembre:

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Barbra and me. ???? what a completely amazing woman. #Funnygirls

Uma publicação compartilhada por Lady Gaga (@ladygaga) em

"Barbra e eu. Que mulher completamente maravilhosa. #Funnygirls [fazendo referência ao sucesso de Barbra, 'Funny Girl']"

Antes da fama, Barbra e Gaga possuem um paralelo: a insistência por esta e muitas vezes um desacordo perante sua família. Sempre criticada por sua mãe pelo seu modo “cigana” de se viver, Barbra, no início de sua carreira, não teve um endereço permanente e se viu dormindo na casa de amigos ou em qualquer outro lugar onde pudesse se instalar. Outro quesito que une as duas artistas é o famoso musical “The Sound of Music”: enquanto que Gaga homenageou o filme em uma das cerimônias de entrega do Oscar, já extremamente famosa, o filme marcou a primeira vez em que Barbra fez um teste musical na vida, infelizmente não sendo aceita.

Seu primeiro contato prolongado com os palcos foi se apresentando em uma boate LGBT no Greenwich Village de Manhattan, chamada Lion. Após vencer um concurso de talentos no estabelecimento, ela foi convidada a voltar e cantou no clube por várias semanas, ganhando o apreço da comunidade LGBT da área central de Nova Iorque desde o início de sua carreira.

Nesse sentido, Lady Gaga e Barbra Streisand são grandes ícones da comunidade LGBT. Barbra já discursou diversas vezes pelos direitos da comunidade, já se mobilizou politicamente ajudando a arrecadar fundos em tentativas de derrotar políticas LGBTfóbicas nos Estados Unidos e já foi colocada entre os "12 maiores ícones gays femininos de todos os tempos" pela revista Out, além de reconhecida como um dos principais ícones gays das últimas três décadas pelo Gay Times.

Enquanto que Gaga possui hinos LGBTs como “Born This Way” e “Hair”, Barbra Streisand possui os sucessos “Don’t Rain On My Parade” e a parceria com Donna Summer, que une o melhor de uma balada romântica e da música de discoteca, “No More Tears (Enough Is Enough)”.

Além de um ícone LGBT, Barbra, musical e tecnicamente, também tem paralelos com Lady Gaga: ambas compõem, dirigem, cantam e atuam. O trabalho de Barbra Streisand como compositora foi reconhecido ao ter algumas de suas canções incluídas no Great American Soundbook, sendo considerado o cânone das composições mais famosas da cultura popular dos Estados Unidos no século XX.

Versátil como Lady Gaga, Streisand iniciou sua carreira em 1962 com a peça da Broadway "I Can get it For you Wholesale", antes mesmo de lançar álbuns de estúdio. A partir de então, a carreira da artista sempre esteve a intercalar entre protagonizar espetáculos da Broadway, gravação e lançamentos de álbuns e apresentações ao vivo e seus trabalhos com atuação no cinema e em seu exercício com trilhas sonoras.

Na música, Barbra Streisand começou sua carreira no início da década de 1960, tendo, desde então, gravado 35 álbuns de estúdio. Os seus trabalhos mais conhecidos e aclamados na música são tanto álbuns de estúdio quanto trilhas sonoras dos filmes os quais Barbra atuou, dentre eles The Barbra Streisand Album (1963), People (1964), a trilha sonora do filme “Funny Girl” (1968), “Stoney End” (1971), a trilha sonora do filme ”The Way We Were” (1974), ”Guilty” (1980), ”The Broadway Album” (1985) e ”Higher Ground” (1997). Todos os álbuns de Streisand foram nomeados para mais de 44 prêmios Grammy.

As décadas de 1960 e 1970 foram seus anos de consagração. Seu quarto álbum, "People", foi o primeiro a alcançar o topo das paradas norte-americanas. Barbra Streisand foi muito aclamada musicalmente ao longo dos anos 1960, acumulando 4 prêmios Grammy, 2 Emmy, 1 Globo de Ouro e foi considerada a Melhor Vocalista Feminina em Vendas, pela Music Business Association. Ao final da década de 1970, foi nomeada a artista mais bem sucedida nos EUA, atrás somente de Elvis Presley e The Beatles.

Mesmo que ela não possa ler ou escrever música, Barbra ouve melodias como composições completas em sua cabeça. Ela ouve uma melodia e a absorve, aprendendo rapidamente. Barbra desenvolveu sua habilidade de sustentar notas longas porque ela quis. Ela pode moldar uma melodia que outros não podem; ela é capaz de cantar entre o canto e a fala, mantendo-se afinada, carregando ritmo e significado.” - Allegra Rossi

Seus traços musicais característicos são as baladas românticas. A artista possui uma voz poderosa, com uma interpretação única a cada letra e melodia, transitando do dramático e emotivo para o cálido, apaixonado e entusiasta. Logo, muitos desses traços são encontrados nas baladas de Lady Gaga, cada uma como uma marca registrada de cada álbum, como “Million Reasons”, “Dope” ou “1000 Doves” versão piano.

As principais temáticas das músicas de Barbra Streisand envolvem principalmente relações familiares, o quesito amoroso da desilusão e o de se apaixonar e amar e a reivindicação pela autodeterminação e emancipação enquanto mulher na segunda metade do século XX.

Streisand impressiona seus ouvintes com sua dinâmica perspicaz (suave em seu ouvido aqui, acotovelada ali); sua bravura sobe, seu vibrato ondulante e a singular qualidade nasal em sua voz - uma voz imediatamente reconhecível à sua maneira como a de Louis Armstrong.” - Whitney Balliet

Seu primeiro sucesso e single em um álbum de estúdio foi a canção “Happy Days Are Here Again”, lançada em 1963. A música consegue exprimir bem a essência musical de Barbra Streisand: uma balada leve com extrema qualidade e irreverência vocal.

No cinema dos próximos anos, Lady Gaga promete se consagrar como uma grande artista, seguindo os passos de outras cantoras famosas mundialmente e que se destacaram nas telonas, como Cher e, principalmente, Barbra Streisand. Gaga já é vencedora de um Oscar, dois Globos de Ouro e de outras premiações renomadas da indústria cinematográfica por seu trabalho no quarto remake de “Nasce Uma Estrela”. Além disso, a cantora já está confirmada em um filme sobre o drama do assassinato do fundador da famosa Gucci.

Entretanto, antes de Lady Gaga, foi Barbra Streisand quem deu vida à protagonista da obra em um de seus remakes. “Nasce Uma Estrela” de 1976 ganhou o Oscar de Melhor Canção Original por “Evergreen”, assim como “Shallow” em 2019, tendo sido todo musicalmente produzido por Barbra Streisand e Kris Kristofferson, o par romântico do filme. A trilha sonora alcançou o #1 na Billboard 200 por 5 semanas e vendeu mais de 4 milhões de cópias nos Estados Unidos e mais de 14 milhões no mundo.

A narrativa do filme segue a mesma lógica desde 1937: uma jovem cantora que conhece e se apaixona por uma estrela do rock’n roll, enquanto que sua carreira ascende na medida em que a de seu parceiro entra em declínio. O filme original foi estrelado por Janet Gaynor e Fredric March, que também foi adaptado em 1954 como um musical estrelado por Judy Garland e James Mason, em 1976 por Barbra Streisand e Kris Kristofferson e novamente em 2018, estrelado por Lady Gaga e Bradley Cooper.

"Lady Gaga, eu a chamo de Stefani, bem, você sabe, ela já foi um sucesso. Mas ela tem a mesma idade - ela tem 32 eu acho, e eu tinha 33 quando fiz esse filme. Mas é bom! Deveria ter sido feito nos anos 90. Achei que seria [refeito] - me ofereceram para dirigi-lo, mas pensei: 'Bem, estive lá, fiz isso'. [Em um ponto] seria com uma musicalidade do rap e um elenco negro, e então Beyoncé [foi cogitada]. Mas a história original sempre funcionará e está funcionando novamente. - Barbra Streisand sobre Lady Gaga em "Nasce Uma Estrela" para a Billboard

Para todas as mulheres na Broadway e no cinema, Barbra Streisand é uma inspiração. Para as que ganharam fama na música e passaram pela indústria cinematográfica, Barbra é uma inspiração e influência ainda maior - incluindo Lady Gaga. Seu primeiro filme foi uma adaptação do seu sucesso da Broadway, “Funny Girl”, de 1968, que obteve êxito artístico e comercial. A partir daí, Barbra Streisand só o fez consagrar seu nome na história cinematográfica norte-americana.

Seu primeiro Oscar veio com seu papel em 1968, na categoria de Melhor Atriz. Curiosamente, foi a primeira e única vez na categoria em que houve empate, tendo Barbra compartilhado o prêmio com Katharine Hepburn. Ocorreu o mesmo com Lady Gaga em 2019, no Critic’s Choice Awards, tendo compartilhado o prêmio de Melhor Atriz com Glenn Close.

Seu segundo filme também foi um sucesso e baseado em um musical. “Hello, Dolly!” teve Barbra protagonizando uma espalhafatosa e rica viúva que vive a juntar casais. Em sequência, a artista já embarcou novamente protagonizando uma comédia musical de nome “On a Clear Day You Can See Forever” em 1970.

Ao longo da década de 1970, Streisand estrelou várias comédias, dentre elas “What's Up, Doc?” (1972) e “The Main Event” (1979). Um de seus papéis mais famosos do período foi no drama "The Way We Were" (1973), pelo o qual foi responsável pela trilha sonora e recebeu uma nomeação ao Oscar como Melhor Atriz por interpretar uma ativista comunista que se apaixona por um ex-colega da universidade. Entretanto, seu segundo Oscar foi o de Melhor Canção Original como compositor de "Evergreen", de “Nasce Uma Estrela”.

E Barbra Streisand não é só uma das melhores atrizes de todos os tempos: seu talento vai além também aos quesitos de direção. Lady Gaga é conhecida por dirigir alguns de seus videoclipes mais famosos, dentre eles os dos singlesMarry The Night”, “G.U.Y” e “Million Reasons”. Nesse sentido, Streisand iniciou seu trabalho como diretora, roteirista e produtora cinematográfica anos após sua estreia no cinema, com o filme “Yentl” (1983). Pela obra, se tornou a primeira mulher da história a atuar, dirigir, produzir e escrever um filme. Além disso, venceu um de seus Globos de Ouro e se tornou a primeira mulher a vencer na categoria de Melhor Diretor da premiação.

Após seu primeiro sucesso como diretora, Barbra dirigiu e produziu mais dois filmes: “The Prince of Tides” (1991) e “The Mirror Has Two Faces” (1996). Mesmo com os sucessos de crítica, os três trabalhos de direção da artista somente a renderam uma indicação na premiação mais importante do cinema. Só houve uma indicação ao Oscar na categoria Melhor Filme, mas nenhuma na categoria de Melhor Diretor.

No século XXI, ainda quando Lady Gaga estava no cenário underground da música de Nova Iorque, Barbra retornou ao cinema em 2004 atuando no filme “Meet the Fockers”. Em 2005, comprou os direitos do livro “Anão de Mendel” e futuramente dirigiria e atuaria em uma adaptação do livro para o cinema.

Anos após, já com Lady Gaga sendo uma estrela pop mundial com o lançamento de seu extended play The Fame Monster, foi revelado que Streisand estaria disputando ao lado de Glenn Close e Meryl Streep pelo o papel de Norma Desmond no filme adaptação da versão musical do clássico “Crepúsculo dos Deuses” (1950). Em 2011, próximo de Gaga lançar seu segundo álbum de estúdio, o The Hollywood Reporter anunciou que a Paramount Pictures concedeu a Streisand a comédia “Maldição da Minha Mãe” para que a artista dirigisse e atuasse no filme.

E não somente nos quesitos artísticos Gaga e Streisand são próximas. Ambas as artísticas partilham da gentileza e da bondade. Streisand pessoalmente reuniu 25 milhões dólares para organizações através algumas de suas apresentações ao vivo. A Fundação Streisand, criada em 1986, contribuiu com mais de 16 milhões dólares para organizações estadunidenses que trabalham na preservação do meio ambiente, na defesa dos direitos humanos e pelos direitos das mulheres.

Lady Gaga e Barbra Streisand já se consagraram na música. E, enquanto que Barbra já deu vida no cinema a um ativista comunista, uma estrela da música em ascensão, uma milionária excêntrica, uma jovem judia no final do século XIX, uma baderneira causadora de confusões, uma jovem universitária acusada de misticismo, uma comediante em seu início de carreira e muito mais, Lady Gaga já deu vida a uma proprietária de hotel maligna, a La Chameleón 3 e também a uma jovem estrela em ascensão na música. Em suma, para qualquer mulher versátil na indústria do entretenimento, Barbra Streisand é um ícone e uma influência.

E mais: a influência de Streisand perante Gaga pode ir além. Em quesitos artísticos, mesmo já com sua marca registrada, Lady Gaga tem potencial para ser a “nova” Barbra Streisand. A cantora tem o potencial para alcançar o primor musical e dos cinemas, das trilhas sonoras e dos musicais. Somente uma carreira sólida e versátil, além de muito talento, é possível de ser comparada com a de Streisand. E, claro, isso demanda tempo e, principalmente, motivação. Somente estando ao lado de Lady Gaga, enquanto fãs e apoiadores de sua arte, será possível sabermos quais caminhos sua carreira, ainda nova, com pouco mais de 12 anos, será capaz de seguir. Contudo, o primeiro passo já foi dado.

PLAYLIST - LADY GAGA E SUAS INFLUÊNCIAS

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