O conceituado jornal britânico The Guardian publicou nesta segunda-feira (30) um artigo no qual elege um dos singles do álbum "Chromatica" como a música do ano de 2020.

A canção em questão é "Rain On Me", parceria de Lady Gaga e Ariana Grande que serviu como segunda música de trabalho do disco.

Confira o que foi dito pelo jornal:

10) Rina Sawayama – XS

9) Perfume Genius – On the Floor

8) Dua Lipa – Physical

7) Waxahatchee – Fire

6) The Weeknd – Blinding Lights

5) Sault – Wildfires

4) Megan Thee Stallion – Savage feat Beyoncé

3) Christine and the Queens – People, I’ve Been Sad

2) Cardi B – WAP feat Megan Thee Stallion

1) Lady Gaga – Rain on Me (with Ariana Grande)

Por trás da doença, do luto, do fracasso político, violência racial, desemprego e uma infinidade de outros momentos profundamente dolorosos, o menor pecado de 2020 é que tem sido cronicamente entediante. Com bares desativados, boates fechadas, festivais cancelados e contatinhos sexuais impulsivos proibidos, tem sido um ano inteiro de janeiros, um deserto sem vibe nenhuma.

Claramente tentamos fazer nossa própria diversão em casa: alguns dos maiores hits pop do ano são extremamente dançáveis, desde o remix de Roses de Imanbek e Saint Jhn a Lighter de Nathan Dawe e KSI e Head & Heart de Joel Corry e MNEK. Esses ‘bacanais’ animados são como shots de tequila, apesar de que nós também precisávamos de algo que iria nos hidratar, emocionalmente falando.

No final de maio, o Reino Unido tinha saído do lockdown, mas continuavam pedindo para “continuarmos atentos” por um vírus que pode ser visto apenas através de um microscópio eletrônico. Uma pausa era necessária mais do que nunca. Entra o dueto de Rain On Me de Lady Gaga e Ariana Grande, uma música que não só encarou o clima pesado de 2020, como também disse para esse clima vir e tentar a sorte se pensa que é forte o suficiente.

Desde YMCA uma mensagem não tinha sido tão pisoteada pelo subtexto em uma batida disco. Rain on Me é tecnicamente uma música de término: “Pelo menos eu apareci, você não mostrou absolutamente nada,” Gaga canta no verso de abertura, desprezando um namorado que não alcançou suas expectativas. Mas assim como YMCA não é sobre fazer uma boa refeição no centro comunitário, Rain on Me não é sobre término – nas mentes de qualquer um que ouvir a música, é sobre o quão ruim é 2020. “Eu preferia estar seca / mas pelo menos estou viva” diz no refrão – ser grato por não estar morto foi a nossa redefinição de padrão este ano, e foi emocionante ouvir alguém cantar isso de forma tão honesta.

A letra também faz referência à abordagem descontraída de Gaga sobre ficar sóbria: “Eu posso ficar me atacando todos os dias por continuar bebendo ou posso apenas estar feliz por ainda estar viva e seguir em frente,” ela disse em maio. Novamente há um subtexto mais amplo: este ano de todos os anos, nós devemos tentar ver o copo meio cheio e saborear o que restou. O fato de que a letra é frequentemente confundida com “I’d rather be drunk (Eu preferia estar bêbado)” diz muito.

Chuva é um símbolo tão rico no pop, estendendo-se desde Dylan, estoico em sua chuva pesada e nos recursos líquidos de pingos de estrelas que alegremente fazem a chuva. Eu particularmente gosto de músicas sobre a euforia de ficar ensopado, seja romanticamente em Walking in the Rain de Love Unlimited, obsceno como Let It Rain de East 17 ou com o absurdismo glorioso de It’s Raining Men. Rain on Me está nessa linhagem, com Gaga e Grande cantando como se estivessem exaustas – Gaga é intensa fechando seus olhos e deixando a chuva inundá-la, enquanto Grande é jovial, como se tivesse sido pega pela tempestade no caminho de casa e mesmo assim escolheu não se importar. O convite determinado “chove em mim” é o oposto de Umbrella de Rihanna ou Set Fire to the Rain de Adele: ao invés de tentar se proteger da chuva ou biblicamente transformá-la, Gaga e Grande pedem para o pior acontecer para que elas possam ser libertadas; Grande também pede para que a chuva lave seus pecados. Esse senso de transcendência torna a música uma potência em 2020, ao reconhecer a chuva e dançar nela.

Até mesmo a produção soa encharcada: uma cascata de piano house, cordas disco, baixo French Touch e efeitos EQ de vento agitado. Atraído por seu efeito de saturação cerebral, eu busquei por Rain on Me repetidas vezes este ano com meus fones de ouvido na minha sala em outra noite maçante de sexta-feira – te leva para fora, para as ruas molhadas, para as vidas dos outros.

Quando a música termina em uma linda tempestade de vocais improvisados e som agitado, o efeito é como escovar os dentes em um anúncio de enxaguante bucal, é como um bebê em uma fonte de batismo, Hugh e Andie no final do filme Quatro Casamentos: sua mente e espírito estão saciados. Está chovendo? Eu não tinha percebido.

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Fonte
Tradução por Vanessa Braz de Queiroz