Mesmo após dois meses de seu retorno à mídia, causado por uma brincadeira realizada no dia 1º de abril pelo produtor musical Paul Blair, mais conhecido como DJ White Shadow, "ARTPOP" continua sendo assunto entre os fãs.

Após alguns eventos e entrevista realizadas com White Shadow, o produtor voltou a falar sobre o lançamento de canções não lançadas na primeira versão do álbum com o projeto "ARTPOP Act II".

Em uma entrevista publicada pela Affinity Magazine na noite desta segunda-feira (28), DJWS voltou a falar com detalhes sobre os momentos de produção do disco, ressaltando os conflitos com sua saúde mental e carreira naquela época, além de seu desejo em retornar ao projeto e trabalhar novamente com Gaga.

Confira a tradução completa da entrevista:

"DJ White Shadow fala sobre ARTPOP, solidariedade artística e como se tornar um empresário"

A maioria dos fãs de música pop pode se lembrar, vividamente, o quão altamente discutidos foram os álbuns Born This Way e ARTPOP, de Lady Gaga, na época dos seus lançamentos, ou já ouviu falar sobre os fatos por aqueles que testemunharam. Paul Blair, também conhecido como DJ White Shadow, também conhecido como DJWS, entretanto, sendo uma das mentes por trás da elaboração de ambos os projetos - é um dos poucos que pode contar a história completa. O DJ e produtor nascido em Ohio tem agitado ondas por mais de uma década, mas é seguro dizer que sua vida artística e pessoal virou de cabeça para baixo depois de trabalhar ao lado de uma das maiores estrelas pop que o mundo já viu. Agora que o tempo passou e a poeira baixou, as palavras de um verdadeiro criador, que fez milhões de pessoas dançarem e esteve cara a cara com algumas das partes mais sombrias da indústria da música, parecem ser as mais importantes. Por este motivo, sentei-me com ele para falar sobre a evolução de sua carreira - e os pensamentos dentro de sua cabeça.

Quando ARTPOP foi lançado em 2013, deparou-se com recepção mista devido a muitos fatores: uma estreia complicada, com planos que foram colocados em movimento e depois repentinamente interrompidos devido às decisões de gestão inadequadas, uma mudança na direção sônica e artística que nem todos entenderam, e uma performance comercial que é impressionante em retrospectiva, mas não foi capaz de igualar o sucesso sem precedentes que os três primeiros álbuns de Lady Gaga proporcionaram. Parecia que o mundo tentava afastar ARTPOP - mas os fãs nunca o esquecem, e este ano os dedicados little monsters organizaram um movimento para reivindicar o conceito único do projeto e sua visão artística de vanguarda, levando-o para o primeiro lugar no iTunes em muitos países e acumulando números de streaming impressionantes.

DJ White Shadow foi aberto nas redes sociais sobre como se sentiu tocado após ver as campanhas para homenagear o álbum. “Meu objetivo é fazer coisas que façam as pessoas felizes. Desde criança, era tudo o que sempre quis fazer - criar algo que pudesse mudar o mundo de uma forma positiva”, diz ele ao Affinity. “O fato de que os fãs gostaram [do ARTPOP] o suficiente para defendê-lo de alguma forma me faz sentir muito bem. Trabalhamos muito nisso e eu queria que fosse ótimo, bem recebido e atemporal. Sempre que as pessoas dizem que ele mudou sua maneira de ver a música ou a vida, considero isso uma vitória. O fato de ter chegado ao primeiro lugar depois de tanto tempo é bastante notável, e estou muito agradecido e grato por isso.”

“Vocês foram ouvidos. Eu falei com LG ontem à noite e ela compartilha da minha alegria. Fizemos um plano para nos encontrarmos depois da Itália e discutirmos nossas vontades. Não vou prometer nada, mas gentileza e amor estão tão fortes quanto aço. Agora não é hora de desistir. Vá mais forte. Esqueça o passado. Pense no futuro. Ponha pressão positiva ao universo e vamos fazer um diamante. Eu estou tão apaixonado por todos vocês.”

Uma petição foi criada para Gaga e Blair lançarem ARTPOP Ato II, uma sequência uma vez prometida para o álbum, que nunca viu a luz do dia. Ela acabou recebendo mais de 50.000 assinaturas e sendo um tópico de tendência constante nas redes sociais - o que levou muitos a comentarem como o projeto estava à frente de seu tempo, sonoramente falando. “Se você quer que seu filho cresça e seja um ser humano respeitoso, preste muita atenção ao seu crescimento ou desenvolvimento - não acho que seja muito diferente da arte. Não permitir que coisas impuras atrapalhem uma ideia pura é uma coisa muito complicada de fazer e acho que esse é um dom que ela tem”, disse Paul quando questionado sobre a chave para fazer arte que permanece na mente e no coração das pessoas por tanto tempo. “[O álbum] não estava tentando ser algo que fosse descartado, ele foi feito para ter um impacto e ser significativo. Escolhemos sons que seriam robustos, ricos e densos, e não enigmáticos. Prestar atenção e estar atento e puro é o segredo.”

Embora seus criadores parecem olhar para trás para o álbum com orgulho e alegria, tanto DJWS quanto Lady Gaga falaram sobre o quão prejudicial esse período de suas vidas acabou sendo, por muitos motivos diferentes. “Sofri com a saúde mental por vários anos. É um negócio muito estranho, e quando você começa a se sair bem, um monte de gente estranha começa a aparecer, criando uma maneira de se integrar ao que quer que esteja acontecendo”, ele admite. “Durante [a criação de] ARTPOP, havia muitas coisas acontecendo, muitas situações confusas e muito acesso fácil ao álcool, mas não tantos meios produtivos para controlar sua saúde mental - era uma ladeira muito escorregadia, porque era tão tumultuado.”

Assim como Lady Gaga foi capaz de se levantar do chão, lançando uma série de singles e álbuns de sucesso, lançando uma carreira muito elogiada como atriz e continuando seu compromisso social através da difusão da bondade - Blair encontrou uma saída. “Eu sou o melhor que já estive em toda a minha vida”, diz ele, com um tom inegavelmente mais alegre em sua voz. “Eu acho que quando você corre através de um incêndio e chega do outro lado, e entende o que é esse fogo, e sai dele ciente da turbulência que você passou - você sai mais forte. Eu me sinto mais forte agora. Também não é algo fácil de fazer, ainda estou trabalhando nisso.”

“Eu desmoronei depois de lançar este álbum. Obrigada por celebrar algo que antes parecia destruição. Sempre acreditamos que ele estava à frente de seu tempo. Anos depois, às vezes, os artistas sabem. E também os little monsters. Patas para cima ❤️❤️❤️ ”

Depois de criar dois dos maiores álbuns pop de seus respectivos anos, DJ White Shadow decidiu redirecionar seu foco dos toca-discos para novos empreendimentos. Em 2015, foi nomeado diretor musical norte-americano da W Hotels - e aproveitou a valiosa experiência recebida durante esse período para expandir seu alcance e retribuir aos artistas. Neste outono, a Graduate Hotels e o DJ White Shadow lançarão a Graduate Sweet Dreams Society, um programa de incubadora artesanal onde criadores terão a chance de fazer sua arte enquanto recebem orientação e recursos. “Basicamente, estamos dando aos artistas a oportunidade de ter um espaço no hotel para criar um projeto, monetizá-lo de forma colaborativa e dar uma parte dele de volta ao apoio às artes na escola secundária”, explica ele. “Levei uma década para saber como trabalhar em um sistema corporativo e ser um artista - geralmente os dois não andam juntos. Esperançosamente, nossos membros serão capazes de replicar isso com outra pessoa [depois que o programa for concluído].” A Graduate Sweet Dreams Society está agora em processo de seleção de candidatos e planeja chegar em mais cidades para mudar a vida de mais criadores com o passar do tempo.

Para Paul Blair, ajudar e homenagear outros artistas não é apenas um desejo, mas uma obrigação. “De volta a ARTPOP, quando eu estava fazendo aquele álbum, eu queria descobrir uma maneira de incluir meus próprios heróis.” Ele se lembra de ter proposto Too $hort e Twista quando se tratava de descobrir quais rappers estariam em ‘Jewels N’ Drugs’, faixa com influências trap do álbum. “Eu amava esses caras quando era criança. Devo isso às pessoas sob as quais fui criado, retribuí-las e também ensinar os fãs [sobre sua arte e habilidades]”.

DJ White Shadow não é estranho em turnês - ele embarcou em um conjunto de shows com Lady Gaga e como atração principal em ocasiões diferentes. Com os negócios nos Estados Unidos reabrindo rapidamente e os shows ao vivo e a vida noturna revivendo, Blair ainda tem medo de voltar à vida normal. "Eu ainda tenho um pouco de dificuldade, estou colocando uma máscara, mesmo sem precisar. É bom ver os rostos sorridentes das pessoas novamente - há um nível de alegria que é divertido assistir de longe", diz ele rindo, com ênfase na última palavra.

Embora você não possa ver o DJ White Shadow fazendo mais de um show por mês durante o verão, ele está longe de deixar a música de lado. “Temos alguns discos malucos que estamos tentando descobrir a melhor maneira de lançar. Tenho uma faixa com Adam Lambert que é uma das favoritas que já fiz em toda a minha vida, tenho uma com Myke Towers, um álbum com Aloe Blacc e Paul Oakenfeld e um álbum inteiro com Pitbull”, diz ele. “Estou interessado em colocar tudo para fora de uma forma que seja significativa, porque são ótimas músicas e eu realmente gostei de fazê-las.”

Nesse ínterim, Paul Blair continua a construir seu portfólio como um empresário versátil. “Você é a primeira pessoa a quem digo isso, não está na minha biografia de mídia social ou em qualquer outro lugar”, ele exclama antes de continuar a falar apaixonadamente sobre FanLabel, um aplicativo que funciona como um jogo baseado em streams onde amigos podem competir para descobrir quem pode alcançar o maior sucesso na indústria da música dentro da fantasia do jogo. “Estamos trabalhando nisso há um tempo, meus parceiros e eu, e estamos nos preparando para colocar alguns novos recursos nele.” Além disso, ele menciona que tem 3 filmes em andamento, que devemos estar atentos. “Eu tenho tantas coisas diferentes em bolsos diferentes. Eu sou um multitarefas a um nível extremamente alto. ”

De 2011 a 2013, DJWS lançou um total de três EPs solo que apresentavam suas filosofias de vida e alguns dos sons mais experimentais com os quais ele estava trabalhando na época - e embora esses dias há muito tenham passado, ele ainda olha para trás, para suas criações, com carinho. “Alguns desses pequenos EPs eu fiz em uma época em que tinha um vasto reservatório de criatividade experimental e queria que as pessoas tivessem um quadro de referência sobre o quão estranho eu realmente sou.” Ele passa a mencionar "Ratchet", uma faixa insana com raízes na música eletrônica e no trap que foi inicialmente definida para fazer parte do ARTPOP, mas acabou sendo incluída em um dos projetos solo de Blair como instrumental. “Essa música é um exemplo muito bom do que está acontecendo dentro da minha cabeça. Talvez em 100 anos as pessoas encontrem, olhem para trás e pensem ‘isso é insano e sonoramente complexo, estranho e rico’”.

Com o ressurgimento do ARTPOP nas redes sociais, muitos têm apontado como parte da produção exibida no projeto, que inicialmente foi rejeitado por ser muito extravagante, acabou se fazendo presente no mainstream e no cenário musical underground de uma forma ou de outra. “Os sons que saíram em ARTPOP, estávamos fazendo-os quatro anos antes das músicas loucas de trap explodirem - eu saía e tocava essas músicas e as pessoas diziam 'isso é terrível'”, diz ele rindo. “Depois disso, eu não fiz nada além de gravações disco e as pessoas achavam ridículo, e agora todo mundo está fazendo disco. Acho que só sou péssimo no timing.”

Para dar outro exemplo, voltamos brevemente à ‘Jewels N’ Drugs ’, uma das faixas mais polarizadoras do álbum, que dividiu os fãs desde o seu lançamento. Paul relembra como foi "louco" convencer os dois rappers a pularem na faixa e como a gravadora de Lady Gaga gostou quando foi apresentada a eles pela primeira vez. “Acho que a melhor coisa sobre ARTPOP é que ele ainda se mantém - isso não acontece com tudo que eu faço, não acontece quando não amo o que estou fazendo. Mas eu amei ARTPOP o tempo todo”, explica ele. “Há um monte de coisas que não foram lançadas, ainda tenho muitos instrumentais que eu revisitei e pensei 'por*a, isso é muito bom'. Um dia alguém [deveria] limpar o disco rígido.”

Embora a última vez que o público tenha ouvido falar do trabalho de Lady Gaga e DJWS foi na trilha sonora de Nasce Uma Estrela, em 2018, o produtor está ansioso para fazer mais mágica. “Esperançosamente podemos nos reunir em breve e descobrir isso. Acho que, como uma pessoa mais madura, na vida, não tenho mais pressa. Acredito, sinceramente, que quando o universo decidir que é a hora, será a hora”, diz ele, sabendo o quanto os fãs imploraram por uma sequência para o projeto de 2013. “Estou vendo as coisas da vista da floresta, não apenas uma árvore de cada vez. [Estou] muito satisfeito que ARTPOP fez o que fez, muito feliz com a posição que estou na vida para poder retribuir e estou apenas cheirando as flores. Veremos se essa coisa de ‘ARTPOP 2′ acontece, ou se outra colaboração entre Gaga e eu acontece. Ficarei tão feliz quanto todo mundo em fazer e ouvi-la - eu adoraria dar-lhes o que vocês estão pedindo.”


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Fonte

Tradução por Maria Seabra

Revisão por Eliza Pildervasser