A cineasta Ruth Hogben esteve envolvida em diversos trabalhos ao longo da carreira de Lady Gaga, todos eles icônicos, vale lembrar. Entre turnês, videoclipes, apresentações na TV e em premiações, a profissional sempre ajudou a ampliar a criatividade estética da cantora com seus trabalhos.

Em plenos 10 anos de um desses trabalhos, Ruth concedeu uma entrevista a PAPER Magazine falando sobre como é trabalhar ao lado da estrela e como foi ter participado de momentos marcantes durante esse tempo.

Entre os assuntos abordados na entrevista da cineasta estão os trabalhos em turnês e apresentações, sua participação em "Born This Way", faixa favorita do álbum e videoclipe de "Venus" que nunca foi lançado.

Leia a entrevista completa traduzida:

Ruth Hogben quer fazer um videoclipe para "Scheiße"

Já se passaram 10 anos desde que Lady Gaga deu à luz ao "Born This Way", seu segundo álbum indicado ao Grammy e sucesso nas paradas musicais, cheio de hinos queer para a pista de dança, visuais icônicos e performances ao vivo que desafiaram os limites. A PAPER está comemorando seu impacto cultural entrevistando alguns dos colaboradores, especialistas e fãs mais próximos de Gaga.

Se você for um Little Monster, você também, por padrão, é fã da Ruth Hogben.

Além de sua parceria criativa com a Mother Monster, o mundo da moda e da música também interage com a cineasta londrina e com a sua destreza singular para as artes visuais desde sempre. Ela já criou curtas para casas de moda renomadas como Fendi, Dior, Louis Vuitton, e outras.

Além de conquistar o seu espaço como uma das principais cineastas da moda, Hogben também trabalhou com o célebre e lendário Alexander McQueen pouco antes de sua morte. Foi, aproximadamente, na mesma época da coleção de primavera 2010, do falecido designer, intitulada "Plato's Atlantis" - a mesma coleção que lançou "Bad Romance", a música que se tornaria o maior sucesso da carreira de Lady Gaga até agora - que Hogben e Gaga cruzaram caminhos e formaram uma relação artística que já dura há mais de 10 anos.

Se você já foi a um show de Gaga, provavelmente consegue se lembrar de muitas interludes memoráveis: a introdução da "Monster Ball Tour"; o "Manifesto Of Little Monsters", a colaboração agora controversa com a Millie Brown, pintora que utiliza o vômito, que apareceu pela primeira vez nesta interlude e depois voltou à cena em uma performance ao vivo no SXSW em 2014 - são algumas das coisas que podem vir à mente.

Ela também trabalhou na "ArtRave", no videoclipe para "Perfect Illusion", uma série de apresentações ao vivo na TV, como o tributo no Grammy a David Bowie e no show do intervalo do Super Bowl de 2017, incontáveis ​​revistas e muito mais - tudo, criativamente, colaborações de [Gaga com] Hogben e com a outra metade da dupla Lobster Eye, Andrea Gelardin.

A PAPER conversou com Hogben, através do Zoom, para revisitar suas memórias da era "Born This Way", falar sobre sua própria evolução ao longo dos anos - e podemos ou não ter usado esta entrevista como uma desculpa para perguntar sobre a música "Venus", da qual o vídeo que tinha a direção dela planejada, nunca fora lançado.

Dez anos desde o lançamento de "Born This Way"! Dá para acreditar? Como você está se sentindo?

Não sinto que já se passaram 10 anos. O tempo é um conceito tão estranho - passou tão rápido - especialmente quando você trabalhou tão duro em tantas coisas diferentes de forma consecutiva. Acredito que, por causa dessa quarentena e de ter tempo para desacelerar, eu fiquei tipo, "Sério? Eu fiz isso tudo, já estive nesses lugares todos?" Tive a oportunidade de parar e perceber como nosso tempo juntas foi épico.

Qual foi sua parte favorita de trabalhar com essa Era?

A liberdade que a Gaga garantiu que eu tivesse. Ela encorajava tanto a criatividade - não havia limites. É por isso que os vídeos de "Born This Way" são assim; eles parecem ter um senso de liberdade próprios. Lembro de estarmos em uma reunião muito grande, com todos os gestores dos departamentos - estávamos todos sentados em um grande círculo - e eu estava sentada bem perto dela, e ela deu a volta em todo o círculo distribuindo tarefas para cada pessoa. Eu estava nervosa e ficando cada vez mais suada enquanto ela se aproximava de mim. Ela estava usando uns óculos escuros enormes e os tirou quando se aproximou de mim e disse: "Ruth, só continue fazendo o que você está fazendo".

Em que momento criativo de sua vida você estava antes de começarem as conversas sobre "Born This Way"?

Nick [Knight] e eu tínhamos acabado de fazer os curtas para o desfile do Alexander McQueen, "Plato's Atlantis". Foi assim que conhecemos Gaga, porque ele estreou "Bad Romance" no final do show. Eu estava terminando de trabalhar naquele projeto, então estava tipo numa onda de liberdade e criatividade, e estava extremamente inspirada. Então, uma lâmpada acendeu na minha cabeça. Na época, não era normal ter todos esses filmes para trabalhos de moda. Eu usava o Final Cut de um jeito que não era mesmo usado antes, distorcendo um monte de efeitos especiais. E, como comecei a trabalhar com Gaga, isso significava que eu poderia usar este programa e usá-lo de uma forma não convencional. Naquela época, tudo tinha que ser explorando e pensado de formas diferentes. A tecnologia estava em mudanças, mas precisava mudar mais rápido para o que Gaga tinha em mente. [Risos]

Tipo assim, você é uma exploradora visual. Muitos dos meus backdrops favoritos foram feitos por você. A intro da "The Monster Ball Tour"! O curta do "Manifesto"! Millie vomitando na Gaga! "ArtRave"! "Joanne"! O vídeo de introdução no Coachella, com um tentáculo saindo da boca de Gaga! Quero dizer, caramba! Como seu estilo mudou em 10 anos?

Sempre foi liderado por ela. O que eu realmente me certifiquei de fazer foi: ser guiada por tudo o que Gaga está descobrindo sobre si mesma em um nível pessoal. E todos esses são períodos tão diferentes, e ela teve tantos momentos musicais diferentes como "ARTPOP" e "Joanne". Todas as músicas são, liricamente, diferentes e, embora eu sempre tenha uma estética, nunca foi realmente algo sobre mim - foi para facilitar a visão dela. Ela é muito colaborativa, mas é muito focada e sabe o que quer, então não há muitas decisões a serem tomadas no meio. Obviamente, quando estou dirigindo e cortando coisas, eu entro no filme, mas tento mantê-la no foco o máximo possível. Eu quero ser um canal para ela.

Queria te perguntar sobre a turnê "The Born This Way Ball", porque quase não havia vídeos compondo esse show; era apenas um castelo gigante que se abria e fechava, e tinha todos aqueles corredores e espaços para acomodar Gaga, a banda, os dançarinos. O que levou à decisão de fazer uma turnê sem quaisquer interlúdios visuais que, até então, sempre haviam sido cruciais para uma apresentação da Gaga?

Não consigo me lembrar; essa é uma pergunta para Gaga.

Vou ligar para ela então depois do almoço.

[Risos] Eu acho que não trabalhei nessa turnê, eu definitivamente fui assistir, mas eu me lembro de participar da edição do videoclipe de "Marry The Night".

Essa é uma das minhas canções favoritas do álbum. Falando nisso, quais músicas quando você ouviu o "Born This Way" pela primeira vez - em qualquer estágio do processo de gravação - mais te ajudaram a perceber o visual da era?

"Scheiße", sem dúvida. É minha faixa favorita de todos os tempos. Se eu pudesse editar [algo com] "Scheiße" pelo resto da minha vida, eu ficaria muito feliz.

Essa seria a minha próxima pergunta, sua música favorita do álbum. Então "Scheiße" é a música para a qual você mais gostaria de ter feito um videoclipe?

Com toda certeza! Vamos iniciar uma petição para eu poder fazer esse videoclipe! [Risos]

Mas falando sério. Qual seria a aparência desse clipe?

Muito couro. Tem que ter uma grande quantidade de couro. Nem é preciso dizer, mas obviamente precisaríamos de ter um exército de Gagas.

Tipo uma liga.

Apenas uma confraternização em massa de Gagas.

Um ajuste de contas.

[Risos] Eu teria que pensar melhor sobre isso, mas acho que teria que haver algum elemento de viagem nisso. Mas não tipo "Mad Max", em que só dão um rolê e voltam. Ela iria a algum lugar com um propósito, vestida em couro.

Antes de finalizarmos a ligação, tenho que perguntar isso, porque se eu não fizer isso, um Little Monster vai jogar tijolos na minha janela com cada uma das cores da bandeira do Orgulho [LGBTQ+]: o videoclipe de "Venus" existe e, caso exista, há alguma chance de ele ver a luz do dia?

Você tem que perguntar isso pro Bobby [Campbell]. Eu não posso e nunca respondi a nenhuma pergunta sobre isso. Já me sacanearam muito na internet, me chamaram de todos os nomes possíveis, por causa desse vídeo.

Ai meu Deus, isso é terrível! Não é nem sua culpa!

Tudo bem. Só aceito. Eu até gostei; os fãs estavam realmente empolgados com isso. Mas acho que você terá que falar com Bobby e a equipe jurídica sobre isso. Vou me abster nesse caso.

Você pode nos contar algo sobre algum trabalho futuro seu?

Estou muito animada por ter um tempinho para ficar em Londres durante este tempo de quarentena, para ouvir palestras sobre arte e ler livros, e realmente direcionar minha mente para um tipo de arte que me inspira e me faz feliz. Acredito que qualquer projeto que eu fizer a futuramente, estará cheio de ideias renovadas depois dessa experiência de dedicar um tempo para olhar o mundo de uma maneira diferente.

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Fonte

Tradução por Gustavo Kolliner