Paul Blair, popularmente conhecido pelo nome de trabalho DJ White Shadow, é um produtor musical e disc jockey norte-americano, que deu início à sua carreira na cidade de Chicago.

Em recente entrevista ao fã-site Gagadaily, DJ White Shadow (DJWS) comentou sobre alguns dos trabalhos que realizou com Lady Gaga, entre eles, a trilha sonora do filme em que a cantora é protagonista, "Nasce Uma Estrela", que estreia dia 11 de outubro no Brasil.

Leia a entrevista traduzida (contém spoilers):

Você trabalhou em seis músicas da trilha sonora de "Nasce Uma Estrela". Você tem alguma favorita dentre elas?

Sim, tenho. Antes de mais nada, não fui só eu quem fez as músicas. Foi um esforço bem colaborativo. Entre várias pessoas. Eu e Nick [Monson], Mark [Nilan Jr.] e a Gaga trabalhamos juntos em tudo. Então eu não posso ter o crédito por todas elas.

Eu gosto de "Look What I Found". É minha favorita. Provavelmente minha favorita dentre todas elas. Eu não acho que exista a melhor canção da trilha, mas eu tive uma coisa muito sentimental na minha cabeça quando escrevemos essa. Na verdade, eu gravei a música quando ainda estávamos escrevendo. Recentemente ouvi de novo e me deixou muito feliz. É uma música legal. E aparece no caderno da Ally no trailer, que deixa bem mais legal. É tipo: "A gente que escreveu aquilo". É muito bom ter participado do filme de alguma forma. Tenho muita sorte de ter uma música – quer dizer, um punhado delas que são participantes do filme. Você escreve aquilo e como um passe de mágica é parte de um diálogo e você fica tipo "O que diabos estou fazendo da vida?". Isso é surreal. Eu deveria estar cavando buracos no chão. Ou limpando algum banheiro em algum lugar. [Rindo]

Do nada, Bradley Cooper estava falando coisas sobre o que eu escrevi! O que é ótimo. Porque ele é incrivelmente bonito. Ossos bem sólidos. [Rindo]

Você produziu "The Cure" em 2017.

Produzi.

Foi algum descarte das sessões criativas de "Nasce Uma Estrela"?

Não. "The Cure" aconteceu em um momento que estávamos criando coisas sem intenção de nada.

Tem um período que você passa, que é tipo... Por falta de termo melhor... Tipo uma fase de exploração? Quando você está tentando de tudo e vendo o que funciona. Então aquela música, tipo, é algo que acontece paralelamente. Nós não tínhamos uma programação cronometrada no início. Se estávamos criando músicas para o filme, ou...

Porque as coisas não estavam exatamente todas escritas. Entende o que digo?

Sim. A fase conceitual.

O filme se desenvolve igual uma bola de neve descendo a colina, certo? Você pega a ideia, aquela coisa toda e sabe quais são as primeiras interações do filme e depois vem os personagens e as músicas que você está escrevendo – mas não funciona tudo necessariamente conforme o filme se desdobra. Então, estávamos escrevendo música para algo que sabíamos sobre, escrevendo por diversão, escrevendo sobre certos conceitos e aí aquela melodia veio sei lá de onde – e aí ficou como ideia. Sem nenhum objetivo em especial. E aí começamos a focar no trabalho de "Nasce Uma Estrela". As coisas começaram a ficar mais concretas e mais definitivas – mais definidas para o filme. Não houveram descartes, só coisas que trabalhamos sem um motivo específico. Então nunca foi "Ah, vamos colocar essa no filme" ou "Nós não precisamos disso no filme, vamos tirar". Foi mais algo do tipo "Cara, essa música é boa demais!". Ela estava indo para o show do Coachella e eu estava fazendo um negócio, como se chama... Interludes com Beazy Tymes, também conhecido como meu produtor favorito de todo o planeta! Ele literalmente é o melhor produtor que eu já conheci na minha vida.

O que você pode nos dizer sobre seu papel produzindo a trilha de "Nasce Uma Estrela" comparado com a produção de um álbum próprio da Gaga?

A gente sempre está escrevendo música pra alguém. Então, você sabe, obviamente, é tipo, ela, mas em uma personagem. Então você tá escrevendo pra alguém com um histórico diferente. Poderíamos muito bem estar escrevendo para outro artista. Quer dizer, ela está cantando as músicas e ela escreveu as músicas e existe uma linha de conexão entre a personagem e ela. Tem várias coisas que eu poderia colocar em paralelo. Você está sentado aí pensando tipo: "Qual seria a música que você escreveria pra tal pessoa se essa pessoa escrevesse uma música nessa situação?". E foi assim que aconteceu.

Então existe uma pequena diferença no jeito que a gente pode abordar isso. O que foi algo divertido. Foi bem legal escrever músicas. Ela e eu nunca tínhamos escrito músicas para pessoas além dela mesma, sabe. Então escrever músicas para outra pessoa que na verdade é ela... Sei lá. [Rindo] É tipo um...

Mesmo que tenha sido criticado pelos principais especialistas, "ARTPOP" teve uma conexão forte com os fãs em níveis que a maioria do público falhou em perceber.

Você mudaria algo se pudesse?

Como é aquela frase... "Arte nunca é finalizada, somente abandonada". Isso é tipo, tudo. Se pudesse voltar, eu mudaria oitocentas coisas. Entende? Mas você não pode voltar. Então você só encara. É como falar, se eu pudesse voltar para a vagina da minha mãe, será que eu ia querer sair com o cabelo liso? [Rindo] Mas é claro! Tipo, eu adoraria poder fazer um corte de cabelo irado, mas eu não posso, é impossível. Mas é claro que tem certas coisas que eu escuto e fico: "Cara, eu lembro dessa parte, lembro daquela parte".

Mas, sabe o que mais? Que se fodam os críticos! Entende? Eu lembro de ler alguma coisa, quando o aniversário de "Applause" chegou. Eu tava tipo.... "Applause, a música sem graça da Lady Gaga conseguiu ser uma medíocre"... algo assim e eu tava tipo: "Foda-se, meu amigo! Nós vendemos 4 milhões de cópias dessa música!".

Falando em "ARTPOP", eu sei que você vê diariamente: "Libera o ACT 2 de ARTPOP!" ou "Libera Tea!". Você acha que algum dia poderemos ouvir essas obras, do jeito certo, sem ser por hackers? Teremos que esperar ela ter 60 anos e ter uma retrospectiva da carreira?

Você sabe que eu na verdade nem sei? É tudo assunto corporativo, de negócios. Sabe? Obviamente, eu adoraria tocar essas coisas. Ia amar que todos tivessem o que querem. Não é minha vontade manter as coisas para mim mesmo.

Deve ser muito complexo.

E é! A gente trabalhou muito nisso. Eu devo ter fragmentos de umas 400 músicas. E algumas delas são realmente muito boas. Mas não era a hora certa. Sei lá, cara... Não depende só de mim. Se dependesse todo mundo poderia vir até minha casa agora e poderíamos fazer um churrascão daqueles e eu tocaria todas as músicas e todo mundo ia... ah, sei lá! Mas é um negócio. Eu fico tipo, não sou o dono da equipe. Sou tipo o garoto da água. [Rindo] Eu sou aquele cara que a galera joga o protetor genital na cara e ele joga na cesta de roupa suja. [Rindo] No vestiário. No intervalo do jogo!

Eu quero me explicar: Gente, eu sou fã também. Eu entendo o que vocês querem. Eu saco disso. Eu queria muito. E, quero dizer, eu tentei. Eu toquei partes, no início de alguns sets meus, ou algo assim, só para o público poder dizer: "Caramba, isso é daora!"

Você tocou um trecho de "Tea".

Tinha tipo uma vibe barroca. A música era muito boa. E realmente era uma boa música.

Muitos elementos de Harpsichord.

É mesmo, meu amigo. Tem muitas músicas. E eu nem sei como, acho que esqueci, como as pessoas sabem sobre elas.

Tem alguma coisa que nós fãs poderíamos fazer para tratar a Gaga e você melhor tanto online quanto em pessoa?

Eu prefiro que vocês se tratem melhor. Eu sou crescido. Se vocês acharem que precisam ser malvados com alguém online, sejam malvados comigo. Eu aguento. Parem de insultar seus pares. Insultem a mim.

O álbum "The Fame" acabou de fazer 10 anos e incrivelmente estamos chegando no 5º aniversário de "ARTPOP" – o tempo está voando. Como você se sente, olhando para o passado, em ter sido parte dessa explosão cultural significante que é a Gaga?

Eu me sinto muito sortudo. Ela é uma ótima parceira para trabalhar fazendo coisas. Eu acho, e eu nem sei se isso é verdade ou não, mas eu acho que nós provavelmente gravamos mais coisas juntos que ela com outros produtores. Eu provavelmente tenho a maioria dos créditos nas músicas dela.

Provavelmente você tem sim.

É agradável poder fazer coisas legais com seus amigos.

Existe alguma história engraçada, algum momento inacreditável ou um momento inspirador que tenha acontecido durante sua jornada com a Gaga ao longo dos anos?

Eu penso que é uma coleção de momentos. É muito difícil escolher só um momento para ser destacado. Eu acho que a primeira vez que vi ela rastejando em uma cerca para chegar nos fãs, ser capaz de assinar coisas quando eles não deixavam ela ir. Nós quase fomos expulsos da África do Sul por que ela não aceitava não como resposta, tinha que andar do lado certo do aeroporto. Porque todos os fãs estavam de um lado e os caras estavam tentando levar a gente para o outro lado e ela estava tipo: "Foda-se". E eu estava tipo: "Na verdade não é legal ficar falando foda-se para um bando de caras cheios de rifles no aeroporto". Mas ela tinha o jeito dela de manter as coisas acontecendo. E é legal testemunhar isso. Um monte de coisas que eu tinha aprendido sobre ser uma boa pessoa nessa jornada, eu aprendi com ela. Como tratar as pessoas. Como sobreviver. Eu tenho tipo 800 zilhões, quinquilhões de histórias. São todas engraçadas. E estúpidas.

Eu gosto da que fala de não irritar os caras com rifles!

Essa é uma muito engraçada. Ela passou por uma fase, durante "Born This Way", que ela só usava metal por cima de tudo. Ela tinha uma bolsa da Hermés que tinha vários spikes ao redor. Tinha luvas cobertas de spikes. Sapatos de couro com spikes. Um chapéu com uma corrente de metal... [Rindo]. Então fomos para um aeroporto comercial em Toronto... e ela estava com um visual tipo gladiador. E eu tava tipo: "O que você está fazendo? Você vai ter que passar pela segurança". E ela respondeu: "Eles vão deixar eu passar". E é claro que eles barraram a gente na segurança. Então estávamos aguardando lá, por uma hora inteira e não havia como se livrar de tudo aquilo a menos que ela tirasse as roupas dela. Então eu fiquei: "Ah, não acredito...". Eu não lembro se nos atrasamos para o nosso voo ou não. Mas tipo, ela parecia com algo vindo diretamente de Mad Max, andando pelo aeroporto. E nós conseguimos passar, mas... Sim. Levou um minuto.

Eu consigo visualizar isso também: "Mas eu sou a Lady Gaga, pelo amor de Deus!"

Sim! Tudo bem! Mas ela estava literalmente cheia de metal. Se ela tivesse rolado por cima de alguém ela teria furado a pessoa até a morte, ela tinha tanta coisa pregada nela. [Rindo]

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Tradução por Deborah Sant'Anna

Imagem: Reprodução / Gagadaily

Revisão por Kathy Vanessa