Nesta sexta-feira (07), "Nasce Uma Estrela" foi exibido no Festival Internacional de Cinema de Toronto. Diversas críticas estão sendo divulgadas por veículos de comunicação especializados.

Confira a crítica feita pelo site Awards Watch:

A crítica contém MUITOS spoilers do filme.

Review: Lady Gaga e Bradley Cooper em “Nasce Uma Estrela”

O começo de Nasce Uma Estrela é de Bradley Cooper como Jackson Maine, um rock star country que consegue tomar tantas bebidas e pílulas quanto consegue lotar um estádio. Ele ainda consegue cantar como um campeão; um alcoólico funcional da mais alta ordem. Ele também exala uma sensualidade intoxicante e áspera que é inegável.

Corta para Lady Gaga como Ally; uma garçonete terminando com seu namorado que é advogado, e sendo assediada por seu chefe de merda. Ela sai para uma performance vocal. Desaparecendo em um beco cantando notas de “Over The Rainbow”, como homenagem a Judy Garland, que estrelou na versão de 1954 do filme. Cooper vai melhor ao usar um enorme letreiro vermelho, clássico dos filmes da Warner Bros nos anos 50. Durante o filme ele faz referências e homenagens para quase todas as versões que vieram antes da dele.

Depois de seu show, ele e seu motorista vão a caçada por mais licor na madrugada e tropeçam, bem literalmente, no The Bleu Bar, uma boate gay em noite de drag. Mas essa noite é especial diz Ramon (Anthony Ramos) já que sua amiga Ally (Lady Gaga) vai cantar ao vivo. A estrela de Rupaul’s Drag Race, Shangela (a dona do bar) faz uma ponta hilária e atrevida enquanto Ally sobe ao palco para cantar “La Vie em Rose” com uma cara igual a de Edith Piaf. Ela tem um ar mais sensual com uma performance ao estilo cabaré animando a plateia, mas Cooper e Gaga mantêm o reinado de serem bregas ou cafonas. Ela deita no chão do bar e seus olhos encontram o de Jackson e o mundo dele para. Nos bastidores Jackson olha para o rosto de Ally e suas sobrancelhas cobertas de cola. “Eu posso tirar elas?” Ele pergunta. Tem um toque de gentiliza ao momento por cima da metáfora.

Os dois vão para um bar de policiais onde são confrontados por um cara cujo a mulher ficou com alguém que parecia Jackson, e Ally cheia de raiva bate no cara. A dupla foge da cena do crime e vai direto para a área de gelados em uma mercearia para que ele possa pegar um pacote de ervilhas congeladas para abaixar o inchaço da mão dela, tem um certo carinho aqui, igual na cena da sobrancelha, Cooper não está ameaçando Ally com a vibe errada de homem protetor. O balanceamento delicado que é tratado perfeitamente. No estacionamento, Ally canta algumas partes da letra de uma música, e então começa “The Shallow” (O grande destaque do trailer) e então Jackson fica chocado novamente.

Jackson leva Ally pra casa na manhã seguinte e pede pra ela ver seu show em um estádio mais tarde naquela noite. Ela diz que tem que trabalhar. Porém mais um comentário de seu chefe e ela pede demissão, e então ela e Ramon entram em um avião privado (graças a Jackson) e assistem o show pela lateral do palco. Ele implora pra ela subir no palco, dizendo que ele trabalhou em um arranjo para a música que ela cantou no estacionamento. Ela recusa. Ela pensa melhor no assunto, toma coragem e vai pro palco. Ela começa a cantar e, quer dizer, nós sabemos que Gaga pode cantar, mas ela CANTA. Como diretor, Cooper dirige a cena do show com uma intimidade tremenda. Feita ao vivo por Cooper e Gaga, eles têm urgência e independência. A câmera foca em Ally sozinha. Ela não está olhando para a audiência por confiança, ela está olhando para Jackson e ela olhando de dentro de si, desesperada para achar esta confiança. É um momento glorioso e só um pedaço de uma performance eletrizante de Lady Gaga.

Isso nos prepara para o que a história é de fato, uma queda e uma ascensão, uma estrela nascendo.

Enquanto os dois continuam a ir para lados opostos de um espectro, Jackson está bebendo e tomando remédios cada vez mais, Ally arruma um empresário (um ótimo Ravi Gavron) que é bem sucessido em mudar o estilo visual e musical das baladas pop-country que ela vem performando (que se encaixam perfeitamente no estilo de Gaga com músicas como “You and I” e “Million Reasons”), transformando-a em uma princesa dance-pop, clichê, algumas vezes as músicas são um pouco vazias, como o número no Saturday Night Live onde ela canta “This Is Not Like Me”, mas em um drama musical, músicas constantemente existem para contar uma história, então não é um crime tão grave.

A carreira de Ally decola e ela é indicada à três Grammys. Na premiação, ela ganha e está dando seu discurso e Jackson se arrastando ao lado dela (outra referência a versão de 1954), existindo completamente no seu próprio mundo, mortificando ela. É uma cena tão constrangedora que você quer cobrir seus olhos como em um acidente de carro. E de um certo modo, é um. Em câmera lenta, um trauma inevitável acontece bem em frente aos nossos olhos.

Tem algo muito diferente sobre como esse filme trata o vício. Primeiramente, a “atuação de bêbado” de Cooper transcende quase todas as versões que eu já vi, é assustadoramente real, elementos suaves como ele rolando seus olhos fazem essa a melhor performance de sua carreira. Também é uma das melhores estreias como diretor que eu já vi. É raro quando um ator consegue trabalhar com diretores poderosos e aprender tão bem sem ser uma cópia carbonizada de um deles, esse é um filme de Cooper que desde o primeiro segundo até o ultimo, é absolutamente um dos melhores filmes do ano.

O ator veterano, Sam Elliot, interpreta o irmão de Cooper, que trabalhou pra ele por décadas. Rivalidades antigas, acusações de roubo de carreira e inveja profunda conectam fortemente a relação entre eles e Elliot dá uma boa performance em seu tempo limitado na tela. Andrew Dice Clay (o pai de Ally) e Dave Chapelle (como amigo mais velho de Jackson) fazem um trabalho bom em partes bem pequenas.

Não tem um elemento desse filme que não funcione no seu mais alto nível; desde a cinematografia de Matthew Libatique, que usa close-ups tão bem quanto aproveita o máximo dos ângulos largos até a edição de Jay Cassidy (eu não consigo acreditar que esse filme não tenha mais de um) até o design de som perfeito de Alan Robert Murray e Steve Morrow, é tudo perfeito em prol da história.

Essa pode ser a quarta versão desse filme e dessa história, mas ela forja o seu próprio caminho, nos seus próprios termos, e é vibrante, pessoal e cru em sua examinação de celebridades, romance, preço da fama, amor e vício.

Nota: 4/4.

No Brasil, "Nasce Uma Estrela" estreia dia 11 de outubro.

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Fonte

Tradução por Vinicius Colombo

Imagem: Reprodução/Divulgação

Revisão por Kathy Vanessa