Na madrugada da última sexta-feira (07), foi lançado oficialmente o tão esperando "MAYHEM", novo trabalho de estúdio de Lady Gaga.

Para promover o álbum, a cantora vem conversando com fãs e sites sobre seu disco.

Na manhã deste sábado (08), o conceituado The New York Times publicou uma entrevista com Lady Gaga, na qual ela aborda temas como sua carreira musical, o álbum "MAYHEM", saúde mental, a possibilidade de construir uma família com seu noivo, Michael Polansky e outros temas.

Durante a conversa, Gaga reflete sobre seu medo de retornar ao pop, a influência de seu parceiro na produção do álbum, e a evolução de sua relação com a indústria da música. Ela também conversa sobre a questão da autenticidade ao longo de sua carreira, a pressão estética sobre mulheres na música e o impacto de sua saúde mental em sua carreira e enfatiza como encontrou felicidade ao se reconectar consigo mesma.

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A mais recente experiência de Lady Gaga? Felicidade.

Fotos de Philip Montgomery para The New York Times

Na divulgação de 'MAYHEM', você mencionou seu 'medo' de voltar ao pop que seus primeiros fãs amavam. Por que esse medo?

Bom, eu comecei minha jornada artística no Lower East Side, por volta dos 17 anos, e trabalhei na cena musical de Nova York o máximo que pude. No fim das contas, isso me levou a criar 'The Fame', meu primeiro álbum de estúdio. Essa música nasceu da cultura das pessoas com quem eu vivia na época. Eu estava cercada de músicos, fotógrafos, promotores de clubes, gente que vivia e respirava arte. Era uma comunidade de apoio, e uma das razões pelas quais eu tinha medo era porque agora estou muito distante dessa comunidade. Também parecia que eu poderia estar apenas reciclando algo que já tinha feito antes. Mas, no fim, decidi que queria muito fazer isso e que esse estilo sonoro e estético realmente me pertence.

Como você caracteriza esse som?

Meu som é uma mistura das músicas que me fizeram me apaixonar pela música. Tem rock clássico, disco, música eletrônica, sintetizadores dos anos 80. É como escolher e juntar meus fragmentos favoritos das canções que amei na infância. É tudo o que amo sobre música, mas reunido em um só lugar. Nem sempre fiz isso. Às vezes, nos meus álbuns, eu pensava: 'Ok, agora vou fazer minha versão de um disco country'.

Joanne.

Certo. Mas a forma como ensinam as mulheres na indústria da música — falam muito sobre a sua aparência, sobre a estética do álbum e sobre a 'marca' musical. Isso começou a afetar a forma como eu fazia música.

Quando você diz que se sentiu 'limitada', o que quer dizer?

É a maneira como falam com você sobre quem você é. Quando me mudei para Hollywood e toquei minha música pela primeira vez para a Interscope, houve conversas como: 'Qual será o seu visual?'. E eu pensava: 'Vai ser eu mesma'. 'Como você vai se vestir?' Bem, vou usar o que normalmente uso no palco. Eles te fazem começar a pensar nisso como um negócio, e não como uma performance.

Houve momentos em que você se sentiu tratada como uma mercadoria?

Sim. Sempre fico nervosa para falar sobre isso porque sou extremamente grata pela carreira que tive. Mas também posso dizer, com muita honestidade, que estar na indústria da música desde a adolescência envolve o quanto você está disposta a abrir mão. Coisas como jantar com a família? Nunca acontece. Ficar sozinha em um cômodo? Nunca acontece. Você é levada de um lado para o outro, sendo sempre instruída sobre onde ir. Imagino que isso pareça estranho para as pessoas, porque veem você no topo do mundo e acham que você está no comando. Mas, como mulher na música, diria que levei 20 anos para realmente estar no comando. Hoje estou, e isso se deve a ter pessoas incríveis ao meu redor, incluindo meu parceiro, Michael. Luto muito com a forma de falar sobre isso, porque quero reconhecer todas as bênçãos na minha vida, mas também falar pelas mulheres dessa indústria. Não há leis sobre quem pode ser produtor, e ninguém os avalia. Então, quando você tem 17 anos e é convidada para um estúdio, você não tem proteção. Você não sabe para onde está indo. Pode não ter nenhum outro adulto na sala além da pessoa com quem está trabalhando. Não é uma indústria segura.

Seu parceiro, Michael, é produtor executivo do álbum. Qual foi o impacto dele na música?

Michael estava no estúdio comigo todos os dias. Ele supervisionou todo o processo de criação do álbum, ajudou a moldar o som criativamente. Foi incrível fazer isso com seu parceiro, porque quando começo a duvidar de mim mesma, ninguém vai me desafiar mais do que ele.

Você pode dar um exemplo?

Sim. Houve um momento em que quase transformei todo o álbum em um disco grunge.

Ele te convenceu a não fazer isso? Eu ouviria esse disco!

Tem bastante grunge no álbum. Foi logo depois de 'Perfect Celebrity'. Depois de gravá-la, pensei: 'Ah, tudo deveria ser assim', e ele disse: 'Mas há tantas outras músicas incríveis que você fez, e todas são você'. Você não precisa tentar ser algo. Achei essa observação muito perspicaz e fiquei feliz, porque muitas vezes sigo minhas ideias malucas e depois me arrependo.

Se olharmos para a história da música pop, não há muitas pessoas que, ao envelhecerem, não se tornem artistas de legado ou passem a seguir tendências. Mas há alguém que trilhou um caminho que parece confortável para você seguir?

Tony Bennett traçou o caminho que mais significa para mim. Ele sempre dizia: 'Apenas se mantenha fiel à qualidade, garota'. Isso me fez sentir feliz e segura: se eu me concentrasse na minha arte, não precisaria ter medo. Isso resume muito do que este álbum representa para mim. Simplesmente me joguei na minha musicalidade. Disse a mim mesma: 'Seja o que for que aconteça nos próximos 20 ou 30 anos de sua carreira, você sempre será uma musicista, sempre será uma artista e sempre poderá trabalhar nisso'. Definitivamente cheguei a um ponto onde alcançar o domínio mundial até os 90 anos não é o que me move. Essa ideia de 'vencer' não sei se é sinônimo de fazer boa música.

Na cerimônia do Grammy, você foi a única artista a falar explicitamente em apoio aos direitos trans. Você vê uma dimensão política na sua missão como artista em 2025?

Não me interesso em ser famosa e não defender nada. É um privilégio apoiar pessoas incríveis. Se você ganha um prêmio, tem 45 segundos para falar enquanto o mundo está ouvindo. Eu queria dizer algo importante para as pessoas com quem me importo.

Eu não sou uma pessoa trans, mas tento imaginar como seria acordar vivendo na América e no mundo de hoje. Ser solidário, ser gentil… Não podemos sussurrar sobre essas coisas. Temos que dizê-las em voz alta.

A gentileza é extremamente subestimada. Você tem alguma ideia de como podemos incentivá-la?

Não sou uma autoridade em gentileza, mas penso que não se trata apenas do que você posta no Instagram. Trata-se de como você vive sua vida, de como conversa com as pessoas, de com quem se esforça para ser amigo, de tentar entender as histórias dos outros. Como garantir que os sistemas funcionem de maneira inclusiva e celebrem as pessoas? Isso não pode acontecer só quando há alguém olhando. Você precisa ser gentil o tempo todo.

Existe uma grande história — talvez apócrifa — que li sobre você: quando era muito jovem e tocava em um bar em Manhattan, havia alguns rapazes de fraternidade fazendo barulho e sem prestar atenção. Para chamar a atenção deles, você ficou apenas de roupa íntima e se apresentou, e esse momento mostrou novas possibilidades para o tipo de artista que poderia ser, abrindo caminho para um aspecto performático no seu trabalho. Estou curioso para saber se você teve alguma epifania artística recentemente.

Definitivamente, eu era um pouco exibicionista quando jovem. Também era muito fã da arte do choque e a estudava bastante. Achava a arte de Spencer Tunick muito interessante. Achava a arte de Sandy Skoglund muito interessante. Marina Abramović também. Mas, hoje, sinto-me muito mais à vontade com minha arte e confortável em criar limites para priorizar as coisas. Por um tempo, priorizei moda e tapetes vermelhos; isso faz parte da arte, mas também faz parte do trabalho. Agora, dou menos importância a isso e passo muito mais do meu dia tocando piano e cantando, escrevendo músicas, produzindo. Não digo isso para desrespeitar a arte do glamour, porque, para mim, os tapetes vermelhos sempre foram um espaço de expressão artística na minha carreira.

Eram uma tela.

Exato. Eles realmente eram uma tela. Mas há uma liberdade em pensar: 'Ok, tenho um tapete vermelho mais tarde, mas, em vez de passar semanas planejando isso, vou fazer outro álbum ou trabalhar em um novo projeto.' O motivo pelo qual falo isso é porque me senti puxada em muitas direções diferentes nos últimos 20 anos, mas o lugar onde me sinto mais feliz é trabalhando na minha própria arte. E eu amo cantar para as pessoas. A questão da imagem… prefiro quando está ligada à arte e não apenas à beleza. Há muitos espartilhos, dietas, maquiagem e pressão, além das listas de mais bem vestidos — é um universo próprio, e não digo isso para desrespeitar. Eu participo, mas isso é mais desafiador para mim do que fazer um álbum. Parece mais distante de quem eu sou.

Quando você se interessou em brincar com artifícios e experimentar diferentes personas, isso já foi psicologicamente desestabilizador?

Com certeza. Em um certo ponto, perdi completamente o contato com a realidade. Mergulhei tão profundamente na fantasia da minha arte e na minha persona de palco que me desconectei. Não diria que me afundar nesse personagem torturado foi algo positivo.

Mas funcionou.

Acho que sim, de certa forma. Algumas pessoas gostavam desse meu lado, mas eu não gostava. Eu era realmente infeliz. Hoje sinto que estou bem comigo mesma. Na semana passada, voltei a um bar que frequentava muito no centro da cidade. Antes, eu ia no meio do dia e pedia um uísque e uma cerveja. Era onde meus amigos estavam, minha comunidade artística. Eu costumava visitar e sentir tristeza, como se estivesse distante da pessoa que fui quando morava ali. Mas, desta vez, senti que reencontrei meu eu antigo.

Você tem alguma dúvida interna sobre se a pessoa que é hoje é apenas mais uma persona?

Não, mas sei por que você está me perguntando isso.

Dizer 'agora sou autêntica' é algo comum.

Sim, entendo. Mas veja bem: eu era autêntica antes. Aquilo era realmente eu. Só que eu estava me dividindo constantemente em diferentes personalidades. Agora, a pessoa que eu sou jantando com você é a mesma que está nesta entrevista. Acho que autenticidade é algo subjetivo. Só sinto que consigo integrar tudo isso mais facilmente.

Você mencionou um período, há uns cinco anos, em que sua saúde mental não estava bem. Pode falar mais sobre o que aconteceu?

Sim. Tive psicose. Fiquei muito desconectada da realidade por um tempo. Isso me afastou da vida de uma forma profunda e, depois de anos de trabalho duro, consegui me recuperar. Foi um período difícil, e algo muito especial para mim foi quando conheci meu parceiro. Quando conheci Michael, eu já estava bem melhor, mas lembro que ele me disse, logo no começo: 'Acho que você poderia estar muito mais feliz do que está.' Foi difícil ouvir isso porque eu não queria que ele pensasse isso de mim. Queria que ele me visse como alguém feliz e completamente equilibrada. Mas falar sobre isso tem sido cada vez mais difícil. Odeio me sentir definida por isso. Foi algo de que senti vergonha. Mas acho que não devemos nos envergonhar se passamos por momentos assim. O que mais quero dizer é: pode melhorar. Para mim, melhorou, e sou grata por isso.

Como você conseguiu se reerguer?

Isso tem a ver com o que falamos antes sobre interpretar personagens no início da minha carreira. Precisei encontrar uma maneira de integrar completamente minha identidade com minha persona de palco e incorporar a energia forte da Lady Gaga na minha vida cotidiana, mas de forma empoderada. Precisei dar sentido a coisas que, à primeira vista, não fazem sentido juntas. Gosto de pensar que sou uma pessoa gentil, mas, no palco, sou feroz, intensa e dura. Então, tive que aprender a conciliar esses dois lados sem que entrassem em conflito. Aprendi a não alimentar o caos. Antes, eu gostava de viver no limite o tempo todo. Hoje, tenho orgulho de ser muito mais entediante.

Antes da entrevista, conversamos um pouco e mencionei meus filhos. Você disse, com um tom sonhador: 'Gostaria muito de ter filhos um dia.' Você tem receios sobre ter filhos e ainda ser a Lady Gaga?

Não, não tenho. Estou animada para ser mãe. No passado, tinha muitas dúvidas sobre isso. Mas, para mim, o mais importante é não forçar meus filhos a viver uma vida que não escolheram. Quanto mais espaço pudermos dar para que descubram quem são por conta própria, melhor. Se nossos filhos só entenderem o trabalho da mamãe, terão uma visão muito limitada da vida. Há tantas possibilidades no mundo, e quero que eles escolham quem desejam ser. Mas também luto comigo mesma às vezes, enquanto me preparo para, espero, ser mãe em breve. Hoje, por exemplo, é um dia maravilhoso, mas tudo gira em torno de mim. Há um nível enorme de narcisismo nisso. Como posso equilibrar minha paixão pela arte com a necessidade de abrir espaço para outras coisas?

Acho que a única resposta é viver isso.

Sim, vivendo. O lançamento de 'MAYHEM' é como se fosse meu aniversário. Mas talvez seja hora de dar espaço para que seja o dia especial de outra pessoa.

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