Faltando exatamente dois dias para o lançamento de um dos álbuns mais aguardados do ano, Mark Ronson aceitou falar sobre a criação do projeto Joanne para a Rolling Stone.

Você pode conferir a matéria completa abaixo:

Mark Ronson lembra-se da primeira vez que Lady Gaga pediu para produzir o álbum que acabaria sendo Joanne: "Eu não sei como vai ser a sonoridade", ela disse ano passado, "mas você quer trabalhar comigo?"

Era provavelmente inevitável que Gaga e Ronson colaborassem. Apesar dele ser mais ou menos uma década mais velho que ela, ambos cresceram a quadras de distância um do outro no Upper East Side de Nova Iorque, e a escola particular dela por vezes teria bailes com a dele nos fins de semana. Os dois se uniram pela primeira vez cerca de oito anos atrás quando Ronson a convocou para fazer vocais em Chillin, uma música que ele produziu para o rapper Wale.

Sobre a experiência, o produtor lembra:

"Tivemos uma hora livre, então ela veio para o estúdio. Era provavelmente 11h30 da manhã e ela estava maravilhosa e com a corda toda. Ela parecia o misto perfeito entre 'fanática por música' e 'nova-iorquina excêntrica'. Eu cresci com esses tipos, toda a minha vida."

Ronson também estava impressionado que Gaga fosse fã do trabalho de seu amigo Sean Lennon. "Eu pensei, 'Quem é essa garota falando sobre os vocais de Sean no piano?' Sean é um músico incrível mas nem todo mundo conhece seus álbuns".

Corta para o final de 2015, quando Ronson aceita a oferta de Gaga para pilotar o sucessor de ARTPOP. Em um estúdio em Londres, Gaga levou uma música nova consigo, Angel Down, que o produtor diz ser "muito comovente". No fim, Mark diz: "eu estava tipo, 'OK, acho que posso ver como isso pode funcionar. Gostamos das mesmas coisas'".

Poucos meses depois, ambos chegaram ao Shangri-La, estúdio histórico em Malibu, atualmente em posse de Rick Rubin. Como Rubin estava com outros projetos, Gaga e Ronson puderam se estabelecer no estúdio por meses, trabalhando em um dos álbuns pop mais aguardados do ano.

"Eu nunca estive nesse lugar antes e foi algo insano. Neil Young estava lá mixando um álbum ao vivo, então você entra e vê o Neil passando por você neste solo sagrado. Há algo de especial naquele lugar", diz Ronson.

A ser lançado esta semana, Joanne foi co-produzido por Mark Ronson e tem colaborações e contribuições de uma variedade estonteante de músicos, incluindo Florence Welch, Josh Homme, Beck, Kevin Parker do Tame Impala e Father John Misty.

Em seu primeiro dia no Shangri-La, Gaga e Ronson escreveram a faixa-título, sobre a qual Gaga lhe disse ser a "alma e o coração" do disco. Ela também aceitou a sugestão do produtor de escrever sobre o que fosse que estivesse acontecendo em sua vida ou sua mente, resultando em canções sobre uma tia que faleceu antes de Gaga nascer, sua vida enquanto dançarina no Lower East Side e suas labutas pessoais, ouvidas no primeiro single Perfect Illusion.

Perfect Illusion começou com uma demo de Parker para uma canção que ele chamava de "Illusion", que Gaga e Ronson expandiram quando sentaram, respectivamente, no piano e na guitarra.

Sobre a canção, Ronson pontua:

"A mensagem na música é bem pessoal para ela. É a filha bastarda de 'Let it Happen' [do Tame Impala] com 'Bad Romance'." Quanto às semelhanças a Papa Don’t Preach de Madonna apontadas por alguns, Mark diz: "Obviamente, algum tipo de acidente".

Os convidados de Gaga para comporem o projeto foram e voltaram ao longo dos meses no Shangri-La. Ela convidou Misty para tocar bateria, enquanto Ronson, mega fã de Queens Of The Stone Age, procurou Josh Homme quando pensou que John Wayne precisava de uma parte de guitarra saída de uma canção do Queens. Homme acabou tocando bateria e coproduzindo.

"Dancin’ in Circles", a colaboração com Beck, começou quando Ronson esbarrou com Beck e o convidou para o estúdio. "Para Gaga, foi como conhecer seu ídolo", ele diz. "Beck é basicamente sua influência favorita de artista dos últimos 20 anos. Ela foi uma tiete no início". A música transformou-se de uma canção acústica do Beck para o que Ronson chama de "Gaga clássica, tipo Alejandro e umas coisas do Fame Monster".

Encontrando-se no estúdio Electric Lady em Nova Iorque, Gaga e Welch conceberam Hey Girl, que Mark diz soar como "duas meninas cantando uma música de soul nos anos setenta". Por um sentimento orgânico e terreno, Ronson recrutou muitos dos músicos que ele usou nos projetos com Amy Winehouse e Rufus Wainwright, porém diz que o produtor Bloodpop, que chegou ao projeto e trabalhou em algumas faixas, certificou-se que Joanne não soasse retrô.

"A gente poderia ter desaparecido em nosso amor pela autenticidade analógica, mas ele veio e balançou tudo de um jeito ótimo. Ele trouxe o disco para a era moderna", afirma Mark.

Embora Lady Gaga e Mark Ronson tivessem trabalhado no álbum por seis meses, Joanne foi tão insistente que canções adicionais para uma edição deluxe do álbum ainda estavam sendo gravadas nas sessões finais de masterização.

Apesar de todas as colaborações, Ronson sentiu que Gaga nunca ficou com medo de acabar sendo dominada.

"Seu canto e sua escrita são tão fortes e presentes e de uma cor tão dominante que você nunca precisa realmente se preocupar com isso. Ela é a cola. Todo mundo veio de uma forma muito natural e ouviu o que a gente estava trabalhando e achou uma forma de se encaixar."

Ronson sente que o álbum finalizado leva a música de Gaga - e seu poder - a um novo nível nunca ouvido. "Tudo que ela escreveu foi honesto, e você ouve isso na forma que ela canta", ele diz. "Eu estava tocando uma música em uma sessão de fotos e um garoto disse 'isso é incrível, quem é?' e quando eu disse que era Gaga, sua boca abriu de surpresa. Ela fez discos incríveis, mas este é cru e exposto de uma forma que ela talvez nunca tenha soado."

Fonte

Tradução por Pedro Marinho

Revisão por Vinícius de Souza