Depois de viajarmos por 9 partes focadas em diversos momentos de "ARTPOP", nós chegamos ao tão esperado dia: o aniversário de 10 ANOS.

Relembrar todos esses detalhes nos mostra o que o álbum, o projeto e tudo a sua volta foi: a mais pura forma de fazer arte, música pop, moda e inovação tecnológica.

Lady Gaga vinha de três Eras extremamente promissoras, divulgações constantes, trabalhos sem pausas, sendo a Era "Born This Way" a mais intensa. Não é à toa que o trabalho excessivo causou a lesão em seu quadril.

Naquela época, uma certa imaturidade nos fazia admirar o amor de Gaga pelo que ela fazia. Dar sangue, suor e lágrimas nos palcos era sinal de dedicação e amor aos fãs. Mas com uma visão interna e real, aquilo era um abuso extremo de uma gestão descontrolada e focada em lucros versus uma artista apaixonada e dedicada, que havia lutado pra chegar até lá.

"ARTPOP" permeia exatamente entre esses dois caminhos: o amor e a dor.

"This album is a celebration. My pain exploding in electronic music. It's heavy, but after I listen to it, I feel happy again." - Lady Gaga

"Este álbum é uma celebração. Minha dor explodindo na música eletrônica. É pesado, mas depois de ouvi-lo, me sinto feliz novamente."


Em meio a pressão de um lançamento, com prazos, criar e entregar uma obra musical requer muita dedicação. Os meses finais que antecederam o lançamento do disco foram intensos, o que culminou no estopim e rompimento da cantora com seu ex-empresário, Troy Carter, assim como uma mudança drástica em sua equipe.

Esse foi um dos primeiros pontos que refletiram no projeto "ARTPOP". Vários adiamentos, cancelamentos e rompimentos. Mas isso não foi um resultado de algo que Lady Gaga fez. Muito pelo contrário. Ela queria apenas fazer suas músicas chegarem até o público e externar todas aquelas ideias criativas, literalmente como um vômito criativo.

E talvez seja isso que o público e a crítica não entenderam naquele momento. Era criatividade exalando de uma artista que respira arte.

Pegue "ARTPOP" hoje e coloque-o para tocar ao lado de diversos artistas mainstream. Você verá influências gritantes. A sonoridade do álbum não agradou os ouvidos "exigentes e experientes" dos críticos musicais, muitos deles revisitando o disco nos últimos dois anos e se redimindo e assumindo suas "ofensas equivocadas".

Ofender e desmerecer um trabalho musical (que leva toda a paixão do artista) é muito fácil, principalmente quando se vive em uma sociedade onde números e a queda de uma celebridade geram likes, cliques, atenção. Aqui se produz um espetáculo dentro do espetáculo: um comportamento de manada que escolhe um alvo para ser cancelado. Além disso, como afrontava as tendências atuais, "ARTPOP" já nascia como toda ideia de que rompe o paradigma do presente: primeiro ela é massacrada, destruída, para que depois de vários anos seja aclamada.

Entretanto, "ARTPOP" não se intimidou e perdeu seu brilho e sua graça como uma bela obra de arte. Ele viajou durante 10 anos, sendo influência para novos ritmos musicais, o casamento entre música, arte e tecnologia. Esteve presente em museus, análises acadêmicas, livros...

Lá em 2013, Lady Gaga era o alvo e "ARTPOP" o prato cheio. Gaga era a perfeita construção de uma figura midiática aclamada, excêntrica e feita para os holofotes. Sua queda, era necessária e deveria ser iminente. Afinal, a mídia cria e constrói, alimenta e logo depois destrói. Com o sucesso estrondoso de vendas do “Born This Way” na primeira semana, Lady Gaga era comparada a si mesma como padrão de sucesso e qualidade – entretanto, dificilmente outro álbum, qualquer que fosse seu tema, atingiria o mesmo patamar que o terceiro cd da artista.

Ousadamente, "ARTPOP" trazia a cultura artística para dentro da música pop. Lady Gaga não inventou este conceito, é claro. Mas notamos que diversos artistas, logo depois, se inspiraram, direta ou indiretamente, em "ARTPOP" e foram aclamados. Em 2013, Lady Gaga foi tratada até mesmo como preponente ou "professora de artes" por simplesmente trazer as obras de arte, que tocam uma parte normalmente elitista da população, para a linguagem popular. Depois de sua ousada empreitada, diversos artistas pop passar a referenciar obras de arte e incluí-las em seus trabalhos.


Como tudo que rompe paradigmas, ao longo dos anos, vimos a música pop se transformar e com isso gostos e opiniões mudarem.

Pitchfork, Idolator, Grammy, entre outros grandes nomes revisitaram "ARTPOP" recentemente com visões mais abertas e menos engessadas e carregadas de ódio. Para o Grammy, por exemplo, o álbum é o mais corajoso de Lady Gaga até hoje. O maior prêmio da música inclusive listou 10 motivos que comprovam isso.

Já a Pitchfork, conhecida por sua alta exigência em termos críticos, muitas vezes fazendo análises ácidas sobre os trabalhos dos artistas, deu nota 73 para o álbum no ano de 2022. Em uma crítica positiva, disse que "o álbum brinca com o atrito entre vulnerabilidade e persona, objeto e agente, trauma e ambivalência em um pano de fundo saturado de EDM".

Eles ainda elogiaram que o álbum conseguia manter uma legião de fãs, que aderem ao conceito e acreditam nas ideias de Lady Gaga e que ela, mesmo cheia de dor, convida as pessoas para sua experiência pessoal. Nisso, Gaga buscava transformar o inacessível em comum, mas com um tom adicional de incluir os espectadores no trabalho.

A opinião continua, observando como Gaga queria que a música pop fosse levada com seriedade: "Se um crítico encontra valor na música comercial feita para as massas, será que um exame intelectual ainda faz do crítico parte do ganho da grande editora, ou significa que o crítico está a transcender as expectativas do seu formato?" Nesse caso, é quase impossível que o artista e o crítico saiam da lógica do sistema capitalista de produção, e "ARTPOP" caiu no limbo do ceticismo da crítica em relação a toda essa sua seriedade que leva como proposta. Concluindo a visita ao cd em 2022, a crítica da Pitchfork identifica que a dor foi uma base muito forte do álbum - e ele está no seu melhor quando colide com o que machuca Gaga.


Além dessa proposta de seriedade, a afronta aos moldes da produção musical em massa, em sonoridade experimental, com pitadas de comercialidade, "ARTPOP" pôde proporcionar que Lady Gaga mostrasse como a arte e a música conseguem fluir de forma orgânica - e rebelde. Além de utilizar obras de arte como conceitos nos videoclipes, nas imagens e em suas saídas de hotéis e cegadas em países, ela mesma se tornou arte. Seja vestindo obras marcantes, como as de Picasso e Da Vinci, seja fazendo uma performance andando lentamente até seu carro, Gaga mostrava que a performance não é apenas a estética: é a identificação da alma do artista, colocada em cada pedaço de suas ações, da sua opção por determinada peça de roupa, da sua expressão facial na frente dos paparazzi...

Uma das maiores realizações artísticas da era foi o convite do diretor de teatro Robert Wilson para criarem uma exposição única, onde ele exibiria obras clássicas recriadas com movimento, tornando-as vivas.

Com filmagens incríveis exalando a pura arte, Lady Gaga mais uma vez provou o que seria revolucionar a cultura pop. Representando 4 obras de arte, a exposição cahamada de Living Rooms foi exibida em Londres, tendo uma exposição final realizada no famoso Museu do Louvre, em Paris. Com a exposição, Wilson foi o primeiro artista vivo a ser exposto no Louvre.

Rememore os quadros vivos interpretados por Lady Gaga:

Lady Gaga representando a obra "Mademoiselle Caroline Rivière", de Jean Auguste Dominique Ingres (1806)


Lady Gaga: "flying" (2013)


Lady Gaga representando a obra "The Death of Marat", de Jacques-Louis David (1793)


Lady Gaga representando a obra "The Head of St. John the Baptist", de Andreas Solari (1507)

Clique aqui para acessar o Museu Interativo.


Além de obra de arte, sua moda também foi refletida pela arte e pela tecnologia, como retratamos na [Parte 9 do nosso Especial, falando sobre a TechHaus.

Esse foi um outro ponto de forte impacto que "ARTPOP" causou de forma voluntária e involuntária no cenário audiovisual tecnológico.

Depois de alguns anos do ARTPOP app, vimos e vemos até hoje o "boom" das plataformas de stream, lives, e produção de conteúdos com músicas em um único aplicativo viralizarem e se tornarem um dos maiores disseminadores de conteúdo do mundo. Antes das lives do TikTok, da criação de Reels, dos serviços online de streaming de música, Gaga já dizia que "a utilização de um APP como forma de vender álbuns [...] é o futuro da música." O futuro chegou e o Spotify, a Apple Music e o Deezer, entre outros, nos mostram como a música se tornou acessível na palma da mão, em troca de um valor fixo.

E lá estava Lady Gaga mais uma vez à frente de seu tempo.


Ser impactado por "ARTPOP" foi uma regra para todos que viveram o antes e depois de novembro de 2013. Cantores, plataformas, empresas de tecnologia; mas um público em específico recebeu essa mudança com mais intensidade. Para os Little Monsters, "ARTPOP" também é controverso e até mesmo "duvidoso".

Não por ser ruim ou uma produção de péssima qualidade, mas porque infelizmente não pode ser executado da forma que merecia.

Diante disso, nós, como um portal que acompanha diversos fãs nesses 12 anos de existência, sabemos como "ARTPOP" impactou a vida de muitos e muitas e foi um divisor de águas não só na carreira de Lady Gaga, mas também na vida de cada um que soube apreciá-lo da forma correta.

Com isso, convidamos alguns dos nossos membros de equipe atuais para falarem um pouco sobre o que "ARTPOP" significa suas vidas:

"Em meados de 2013, me lembro de olhar as primeiras fotos de divulgação do álbum. Os cabelos castanhos, o rosto limpo de maquiagem e um fundo completamente branco, não nos dava um sinal sequer do que viria ser a sonoridade de ARTPOP. Fiquei entusiasmado já que seria o projeto sucessor ao Born This Way e pela grande pausa entre um álbum e outro.

Após viver toda experiência, ARTPOP significou pra mim um mundo de possibilidades, em que uma cantora buscava por inovação e experimentação na música pop. Apesar das críticas, nós fãs acreditamos que o álbum estava a frente do seu tempo, reverberando tendências que podem ser notadas até hoje em dia.

No fim, me sinto honrado por ter vivido uma era tão destemida, e que me fez acreditar na autenticidade provocada por um artista e que sua arte pode significar qualquer coisa.

FREE MY MIND S2" - Adriano (Designer)


"Para mim, ARTPOP é a personificação da liberdade em todas as suas formas. Cada batida, cada letra, é uma explosão de expressão autêntica. Este álbum é um lembrete de que somos todos obras de arte em constante evolução. A cada vez que ouço suas músicas, sinto-me mais conectada com minha própria essência e mais ousada em abraçar todas as versões de quem fui e de quem serei ao longo da minha vida, compreendendo que "ser" é, em si, uma forma de arte. É fundamental destacar que essa construção do "eu" não implica em apagar aqueles que me cercam ou que vieram antes de mim. ARTPOP nos lembra da importância de celebrá-los, reconhecendo que somos enriquecidos pelas histórias e conexões que compartilhamos uns com os outros." - Fernanda (Redatora)


"'Liberte minha mente, ARTPOP. Você faz meu coração parar.' No meu ranking pessoal de álbuns favoritos da Gaga, o ARTPOP ocupa o 2º lugar. Sinto que sempre serei envolvido por toda a experiência sonora e estética que ele nos proporciona. No fashion film de Inez & Vinoodh, para promover o álbum em 2013, a Gaga o definiu como uma celebração. E é mesmo! Além de celebrar sua energia criativa, e o quanto ela é devota de sua própria arte e repertório, ele também exalta a conexão estabelecida entre ela e os fãs desde o início da carreira através de sua ousadia e criatividade. Foi uma era repleta de aparições e performances memoráveis, controvérsias e muitas referências artísticas. E sou muito feliz por ter acompanhado tudo isso na época, e mais ainda por, após uma década, manter a mesma paixão. Obrigado, ARTPOP. 'We could belong together.' Pra sempre." - Marciano (Ilustrador)


"Para mim, o ARTPOP é muito mais do que apenas um álbum ou uma fase da carreira da Gaga. É uma representação da liberdade criativa e expressão artística sem limites. ARTPOP significa para mim a busca incessante pela expressão autêntica e a celebração da beleza diversa da arte e da música. É uma lembrança constante de que, através da criatividade e da coragem de sermos nós mesmos, podemos moldar um mundo onde o ARTPOP pode realmente significar qualquer coisa que desejarmos." - Erika (Legender)


"'ARTPOP' foi mais que um álbum pop. Foi um projeto que estimulava a criatividade, a vivência e o conhecimento – conhecimento da arte e conhecimento de si mesmo. Gaga lutou contra a indústria, que buscava fazer dos artistas produtos fabricados facilmente consumidos, e trouxe uma complexidade necessária para que víssemos a música e os artistas como serem profundos, desafiando seus próprios colegas de profissão a também se revoltarem contra 'o sistema'. Lady Gaga fez o espectador, o artista, a mídia, a indústria, todos mergulharem dentro do espetáculo de um artista mainstream e produzirem seu próprio espetáculo – ainda que às custas dela mesma. Enquanto 'Born This Way' mostrava a importância de nossa individualidade, 'ARTPOP' apelava para a solidariedade. 'We could belong together' é a necessidade de se construir uma comunidade mundial híbrida, que gosta de tudo que a arte pode oferecer: dança, sexo, arte, pop, tecnologia. Por isso, o amor pela música, não os lucros e números, porque a arte na música pop vai transcender as barreiras do inteligível às sensações. 'ARTPOP' é ambicioso – é, no presente, por continuar produzindo críticas, análises e discussões depois de 10 anos – porque não quis ser apenas mais um cd pop a ser digerido pelo público. Ele quis aproximar a cultura do popular, inserir o espectador em temas de difícil abordagem, fazer com que todos fossem críticos e ao mesmo tempo artistas. E é por isso que Lady Gaga fica de pé esperando o público esmagar a crítica, dizendo se algo era certo ou errado. Porque em 'ARTPOP' não existe certo e errado, mas a visão subjetiva do mundo, produzida pelos que o vivenciam." - Thainá (Criadora de conteúdo)


Chegar ao fim desse Especial é estar com o coração cheio de amor e de orgulho. Caminhar por 2023 e viajar por cada detalhe de 2013 é celebrar e comemorar "ARTPOP" da forma como ele realmente merece.

"ARTPOP" é e sempre será isso. Uma revolução interna de sentimentos externados em diversas formas, ritmos e estilos, que geram emoção, identificação, comoção e admiração. "ARTPOP" não é uma coisa só. "ARTPOP" é todas as coisas. "ARTPOP" pode ser qualquer coisa. E é isso que o faz tão único, tão original, e tão perfeito em sua fúria gloriosa.

"Free my mind ARTPOP. You make my heart stop."


Relembre as partes anteriores do nosso especial:

ESPECIAL #10AnosdeARTPOP:
- Parte 01: O Início de uma nova Era

ESPECIAL #10AnosdeARTPOP:
- Parte 02: Criação, Produção e Lançamento

ESPECIAL #10AnosdeARTPOP:
- Parte 03: Singles e Videoclipes

ESPECIAL #10AnosdeARTPOP:
- Parte 04: Músicas

ESPECIAL #10AnosdeARTPOP:
- Parte 05: Músicas

ESPECIAL #10AnosdeARTPOP:
- Parte 06: Act II e Unreleaseds

ESPECIAL #10AnosdeARTPOP:
- Parte 07: Divulgação

ESPECIAL #10AnosdeARTPOP:
- Parte 08: artRAVE: The ARTPOP Ball Tour

ESPECIAL #10AnosdeARTPOP:
- Parte 09: TechHaus e ARTPOP App

Texto colaborativo com Thainá Almeida.


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- As informações citadas foram retiradas no fórum Gagapedia / Acervo pessoal.